Canas de Senhorim: Relatório de estudo de saúde dá força à luta de trabalhadores das minas |
Urânio afectou saúde da população Resultados do relatório final do estudo que avaliou a saúde da população de Canas de Senhorim revelam que a existência de minas de urânio afectou a saúde da população. Antigos trabalhadores das minas querem agora que o Governo responsa às suas reivindicações. Antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio exortaram ontem o Governo a responder urgentemente às suas reivindicações, que consideram ter ganho força com o relatório final do estudo que avaliou a saúde da população de Canas de Senhorim. A realização de exames médicos periódicos, a obtenção de benefícios na idade da reforma e o pagamento de indemnizações às famílias dos colegas que morreram são as exigências que os trabalhadores há muito fazem ao Governo, por não terem dúvidas de que a constante exposição à radioactividade lhes afectou a saúde. “Temos estado à espera da decisão do Governo mas a nossa paciência esgotou-se. O último relatório do Minurar, agora conhecido, vem provar a relação causa-efeito”, afirmou à Agência Lusa António Minhoto, antigo trabalhador da Empresa Nacional de Urânio (que estava sediada na Urgeiriça, em Canas de Senhorim) e dirigente da associação Ambiente em Zonas Uraníferas. O projecto Minurar, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge em colaboração com outras entidades, teve como objectivo estudar as minas de urânio e os seus efeitos na saúde, recorrendo a três grupos de freguesias: a de Canas, onde se situa a mina da Urgeiriça e se efectuava o tratamento químico de minério, outras com minas mas sem secção de tratamento e ainda em outras sem actividade mineira. Já em 2005, tinha sido apresentado o primeiro relatório do Minurar, tendo na altura o seu coordenador geral, Marinho Falcão, garantido que os habitantes de Canas de Senhorim não tinham “razões para estar em pânico”. No entanto, disse haver uma “forte evidência” de que a população de Canas de Senhorim “tem em média valores mais baixos da função da tiróide”, que “pode haver alguma diminuição da função reprodutiva masculina” e que “há uma diminuição dos parâmetros hematológicos”, nomeadamente das plaquetas e dos glóbulos vermelhos. Por divulgar, estava o relatório relativo à contaminação interna do organismo dos habitantes, através da análise de amostras de cabelo para avaliar os níveis de polónio e de chumbo (descendentes do urânio), e aos efeitos genotóxicos. Segundo o relatório agora divulgado, em média, os habitantes de Canas de Senhorim têm concentrações de polónio semelhantes aos das outras freguesias onde houve actividade mineira, “sendo ambas significativamente mais elevadas” que as registadas no terceiro grupo. Já as concentrações de chumbo indicam que os habitantes de Canas de Senhorim têm “uma taxa de ingestão actual deste radionuclido, provavelmente através da água de consumo”, mais elevada do que os outros dois grupos. Quanto aos efeitos genotóxicos, “e à semelhança do que foi observado em vários parâmetros de saúde descritos no relatório científico I, os resultados revelam que a frequência basal de aberrações cromossómicas totais e das translocações (indicador mais sensível de um efeito cumulativo de exposição prolongada a radiação ionizante) em particular, está ligeiramente mais elevada num subgrupo da população de Canas de Senhorim, embora sem significância estatística”, acrescenta. “A exposição da população de Canas de Senhorim à mina da Urgeiriça e à sua escombreira constitui uma explicação plausível para as diferenças encontradas”, conclui o relatório. António Minhoto considerou “lamentável este atraso na divulgação da última parte do Minurar” e mostrou-se preocupado com as conclusões agora conhecidas. “Se se confirmou, através do cabelo, que os habitantes foram afectados, então imagine-se a perigosidade para os trabalhadores que mais directamente estiveram expostos à radiação”, frisou. No estudo são feitas algumas recomendações, nomeadamente “apreciar a viabilidade de realizar um estudo para estimar efeitos na mortalidade” e “garantir que a vigilância epidemiológica da população geral exposta que se afigura, de momento, desnecessária, possa ser accionada se, no futuro, a situação o exigir”. Para analisar o relatório do Minurar, os antigos trabalhadores da ENU vão reunir-se em plenário no próximo dia 1 de Maio. |
maio 02, 2007
A Urgeiriça...no "O Primeiro de Janeiro"
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1 comentário:
O blog está fixe. O problema das minas deveria ser uma preocupação pública (não apenas local), mas as pessoas e os poderes públicos continuam a ignorar os riscos, como se isso fosse uma preocupação dos "maluquinhos do ambiente", os quais são para muita gente piores que os "apanhados da bola", sobretudo num país como o nosso que só vive de bola e televisão rasca. Ainda bem que existe a Internet, embora essa chegue a um público-alvo sempre restrito. Saudações.
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