O portal de Canas de Senhorim

março 30, 2008

Trabalhadores da ENU propõem que Bispo de Viseu seja mediador



Os trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Urânio (ENU) decidiram, em plenário realizado Domingo, pedir ao governo que deixe o Bispo de Viseu ser mediador na luta pelas suas reivindicações. " Se até ao dia 28, a proposta do D. Ilídio não for aceite, com abertura ao diálogo, mas que seja um diálogo para resolver, estaremos lá em baixo, na Barragem Velha", afirmou António Minhoto, porta-voz da comissão de trabalhadores.António Minhoto referia-se à inauguração das obras de requalificação ambiental da Barragem Velha, local onde foram depositados resíduos resultantes da exploração do urânio, que serão inauguradas dia 28 com a presença de um membro do governo. Os ex-trabalhadores da ENU têm desenvolvido uma luta exemplar para que todos os que trabalharam nas minas e suas famílias vejam reconhecidos os seus direitos: Reivindicam que todos os trabalhadores da ENU sejam equiparados a trabalhadores de fundo de mina, com benefício na idade de reforma, e o pagamento de indemnizações aos familiares daqueles que morreram de doenças relacionadas com a exposição à radioactividade.No passado dia 7 de Março, o PS chumbou no parlamento os projectos de lei apresentados que permitiam resolver os problemas dos trabalhadores da ENU. O Bloco de Esquerda já em Maio de 2005 tinha apresentado um projecto de lei com o objectivo de alargar os direitos parcialmente reconhecidos com o Decreto-Lei 28/2005. (Leia a opinião de Mariana Aiveca Trabalhadores da ENU: Vê lá companheiro! Vê lá! Vê lá, como... venho... eu!) O Bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, que foi pároco em Canas de Senhorim, já tinha reclamado justiça para os trabalhadores da ENU e suas famílias numa nota pastoral.Os trabalhadores em moção aprovada em plenário referem que aceitam a mediação do Bispo, "desde que o Governo entenda querer discutir e resolver as nossas reivindicações" e avisam que "caso essa vontade não seja expressamente favorável", os antigos trabalhadores mantêm o que já tinham decidido em outros plenários, de "manifestarem a sua indignação sempre que algum membro do Governo se desloque à região". Os antigos trabalhadores da ENU vão enviar também cartas de agradecimento aos partidos que apresentaram os projectos de lei (BE, PCP e PSD) e aos que os votaram favoravelmente (CDS/PP e Os Verdes), mostrando-se convictos de que, quando a Assembleia da República tiver "outro quadro político", as suas reivindicações terão uma resposta positiva.No plenário estiveram presentes elementos do PCP, do BE e da União dos Sindicatos de Viseu, mostrando o seu apoio à luta.

março 27, 2008

Acta do Congresso Int.


Mina de Urânio da Urgeiriça.
Acta do congresso Internacional sobre ....
ambiental em minas de urânio desactivadas.
Actas do III Seminário de ...

março 25, 2008

Passeio TT Nelas Pelos Trilhos do Coração do Dão...

...passou na URGEIRIÇA




Fotos © efeneto

março 22, 2008

Esta LUTA passa por AQUI

Aqui

RTP Canal 1

D. Ilídio Bispo de Viseu [II]

Diálogo em vez de manifestações
O bispo de Viseu compreende a luta dos antigos trabalhadores da ENU e diz estar disponível par mediar as negociações com o governo.

O bispo de Viseu está disponível para ser o mediador do “conflito”, que opõem os antigos trabalhadores da ENU - Empresa Nacional de Urânio, ao Governo e ao Partido Socialista. A disponibilidade de D. Ilídio Leandro surge poucos dias depois do PS ter chumbado, na Assembleia da República (AR), os projectos-lei do Bloco de Esquerda, PCP e PSD, que pretendiam dar respostas às reivindicações que têm sido apresentadas nos últimos anos. Uma dessas reivindicações é a equiparação, de todos os antigos funcionários da ENU a trabalhadores de fundo de mina, para terem direito a bonificação na contagem do tempo de serviço para efeitos da reforma.
O bispo reconhece justiça às reivindicações e “teme” que, depois do chumbo na AR, regressem as manifestações de rua, que, embora compreenda, diz ser mais favorável ao diálogo e às “conversações à volta de uma mesa”, para as quais se mostra disponível para servir de mediador. Dom Ilídio Leandro, que foi pároco em Canas de Senhorim, diz que “aquelas pessoas, que são gente boa, mereciam uma atitude de maior solidariedade e justiça.”

Apelo ao governo

Reunidos em plenário, os antigos trabalhadores da ENU, decidiram pedir ao Governo que deixe o bispo de Viseu, ser mediador na luta pelas suas reivindicações. “Os trabalhadores aceitam tal intenção, desde que o Governo entenda querer discutir e resolver as nossas reivindicações, pois sempre estivemos abertos ao diálogo”, referem, numa moção aprovada por unanimidade.
Deixam no entanto o aviso de que, “se até ao dia 28, a proposta do D. Ilídio não for aceite, com abertura ao diálogo, mas que seja um diálogo para resolver, estaremos lá em baixo, na Barragem Velha”, frisou o porta-voz António Minhoto.
A Barragem Velha é um local onde foram depositados os resíduos resultantes da exploração do urânio, cujas obras de requalificação ambiental deverão ser inauguradas dia 28, na presença de um membro do Governo. A moção, para além de enviada ao governo, segue também para os partidos políticos.
As Beiras Online

março 14, 2008

Antigos trabalhadores da ENU promovem plenário após chumbo do Parlamento às suas reivindicações.

Antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) reúnem-se domingo em plenário, para decidirem as medidas a adoptar depois de o PS ter chumbado na Assembleia da República projectos de lei que davam resposta às suas reivindicações


A 07 de Março, o PS chumbou propostas do PSD, PCP e BE que previam, nomeadamente, que mesmo os antigos trabalhadores que não tinham vínculo à ENU na data da sua dissolução, fossem abrangidos por um decreto-lei (nº 28/2005, de 10 de Fevereiro) que os equiparava a trabalhadores de fundo de mina, dando benefícios na idade da reforma.

No dia seguinte, elementos da comissão de antigos trabalhadores reuniram com os deputados socialistas eleitos por Viseu, José Junqueiro e Miguel Ginestal, que prometeram empenhar-se em pedir, junto da Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), um levantamento de quantos trabalhadores poderiam ter estes benefícios.

«Vamos ver se os trabalhadores entendem que isto foi um passo positivo, porque tínhamos pedido um sinal de abertura ao Governo e o empenho do PS», afirmou à Agência Lusa o porta-voz da comissão de antigos trabalhadores, António Minhoto.

António Minhoto tinha avançado que, se regressassem a casa sem uma resposta positiva da Assembleia da República, passariam a manifestar-se em todas as deslocações de membros do Governo ao distrito de Viseu para inaugurações.

Como está prevista para o próximo dia 28 a inauguração das obras de requalificação ambiental da Barragem Velha da Urgeiriça (onde foram depositados resíduos resultantes de décadas de exploração do urânio), os antigos trabalhadores da ENU vão também decidir o que fazer na eventualidade de aí se deslocar um membro do Governo.

Na Assembleia da República, a deputada Cidália Faustino (que pertence à Comissão de Trabalho e Segurança Social) justificou a votação do PS com o facto de a legislação fazer depender de «excepcionais razões conjunturais» a extensão do regime jurídico de acesso à pensão de velhice dos trabalhadores do interior das minas aos trabalhadores do exterior.

«Essas excepcionais razões conjunturais foram, no caso vertente, a difícil situação económica e financeira da ENU que levaram à dissolução da empresa, associada à crise do sector mineiro, colocando os seus trabalhadores numa situação laboral difícil devido à falta de horizontes profissionais quer no sector mineiro, quer no mercado de trabalho em geral», explicou.

Pegando nas palavras da colega, José Junqueiro frisou à Lusa que foi precisamente por isso que anteriores Governos do PSD/CDS-PP apenas estenderam os benefícios àqueles que ainda trabalhavam na ENU na altura da dissolução.

José Junqueiro confirmou haver a intenção de pedir à EDM «um levantamento completo sobre os restantes trabalhadores» e depois «ir mais longe, tentando enquadrar na lei algumas situações».

«Primeiro, vamos informar o Governo desta nossa iniciativa e tentar concretizá-la e, no final, vamos falar novamente com o Governo para tentar resolver casos que sejam justos», explicou.

Os antigos trabalhadores têm, no entanto, reivindicado o alargamento dos benefícios da idade da reforma a todos, com o argumento de que todos estiveram sujeitos aos perigos da exposição à radioactividade.

José Junqueiro lamentou críticas que têm sido feitas pelo representante dos trabalhadores, frisando que o PS tem tido «uma acção silenciosa, discreta», que permitiu arrancar com os exames médicos, tendo já 170 trabalhadores passado pelo médico de família e 115 feito exames complementares no Hospital Central de Viseu.

Lembrou também o empenho na requalificação do passivo ambiental deixado pelas minas de urânio da região, nomeadamente da Barragem Velha, quase concluída, e o lançamento a 22 de Fevereiro do concurso público para a monitorização e controlo periódico e contínuo das minas da Urgeiriça, Quinta do Bispo e Cunha Baixa.

«Vamos continuar a, discretamente, trabalhar nestas questões», garantiu, acrescentando que os deputados socialistas estão «sempre dispostos a falar» com os antigos trabalhadores da ENU.

Lusa/SOL

março 08, 2008

Requalificação da Barragem Velha

ANTES
Urânio: Requalificação da Barragem Velha da Urgeiriça termina este mês - EDM
As obras de recuperação ambiental da Barragem Velha da Urgeiriça, em Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, onde foram acumulados resíduos resultantes de décadas de exploração de urânio, vão ser inauguradas este mês.
O anúncio foi hoje feito por Duarte Barros, coordenador da obra da responsabilidade da Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), entidade que está incumbida da reabilitação de zonas mineiras degradadas e abandonadas de todo o país, incluindo as 61 de urânio existentes na Região Centro.
Orçadas em perto de seis milhões de euros, as obras de selagem da Barragem Velha ficam assim concluídas cerca de dois anos depois de se terem iniciado, pondo fim a um estigma relativamente àquela zona, que emitia uma radioactividade acima da permitida por lei, chegando a atingir "15 mil choques", explicou.
"Conseguimos amplamente atingir os objectivos, até suplantámos as expectativas mais optimistas que havia", que eram de "1.000/1.500 choques", afirmou Duarte Barros durante uma reunião técnica, acrescentando que, actualmente, a radioactividade da Barragem Velha tem até "valores abaixo das zonas envolventes".
Segundo o responsável, além dos rejeitados que já aí se encontravam, foram ainda transportados para a Barragem Velha mais 140 mil metros cúbicos que estavam na escombreiras (local de acumulação de resíduos) de Santa Bárbara e na zona dos minérios pobres, ambas situadas na envolvente das instalações da sede da extinta Empresa Nacional de Urânio (ENU), na Urgeiriça.
Apesar de esses resíduos "não terem valores tão problemáticos", foi decidido transportá-los para a Barragem Velha, ficando também assim selados.
A recuperação consistiu em colocar em cima dos resíduos radioactivos 60 centímetros de argila, o que levou logo a que "os valores radiométricos baixassem de sobremaneira", mais dois milímetros de tela, seguida de duas camadas de inertes (areia e brita) e mais 50 centímetros de terra vegetal. Foi também criado um complexo sistema de drenagem.
Duarte Barros explicou que dois incidentes ocorridos em 2006, ventos fortes no Verão e chuvas no Inverno - que levantaram poeiras e arrastaram lamas, respectivamente - levaram à alteração do tipo de tela, até porque "nunca houve um espírito economicista" nesta obra.
Pelo mesmo motivo, foi decidido instalar seis estações de captação de radão (gás resultante do urânio) que não estavam previstas, para analisar o seu comportamento desde a camada contaminada até à final.
A Barragem Velha era considerada o principal foco de contaminação da Urgeiriça, tendo, por isso, esta sido a intervenção prioritária.
No entanto, paralelamente, a EDM já avançou com recuperação de outras zonas da Urgeiriça.
Lusa/RTP

ACTUAL

março 07, 2008

2008/03/07 O nó na garganta da Urgeiriça

Urânio: ex-trabalhadores em manif no Parlamento
Reivindicam benefícios na idade de reforma e indemnizações por terem estado expostos à radioactividade.
Cerca de uma centena de ex-trabalhadores da ENU, empresa estatal que explorava as minas da Urgeiriça, manifestaram-se esta sexta-feira em frente ao Parlamento reivindicando benefícios na idade de reforma e indemnizações por terem estado expostos à radioactividade, noticia a agência Lusa.
A manifestação foi convocada para o mesmo dia em que se discutem na Assembleia da República projectos de lei do Bloco de Esquerda, PCP e PSD que poderão responder a estas reivindicações e trouxe a Lisboa 130 ex-trabalhadores e familiares que se distribuíram entre as galerias - para assistir à votação - e a rua, concentrando-se frente à fachada do edifício.
Segundo José Luís Cardoso, da Comissão de Trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Urânio (ENU), em Canas de Senhorim, Nelas, onde trabalhou 24 anos, o que está em causa são indemnizações às viúvas e a equiparação aos mineiros.
«Trabalhámos todos na mesma empresa do Estado e estivemos sujeitos a uma grande carga de radioactividade. Reivindicamos os mesmos direitos que foram atribuídos aos nossos colegas. As minas de urânio emitem radiações, não distinguem os que estão dentro e os que estão fora», explicou.
Os ex-trabalhadores querem alargar a todos o decreto-lei 28/2005, que dá benefícios na idade da reforma, e indemnizar os familiares dos cerca de 100 colegas que alegadamente morreram com doenças cancerígenas, por terem estado expostos à radioactividade.

As razões da contestação
Na altura, foram abrangidos apenas 42 funcionários, pois os restantes já tinham rescindido com a empresa e o decreto-lei apenas se aplicava aos que mantinham vínculo profissional com a empresa na altura em que foi extinta.
Foi o caso de José dos Santos Coelho, que trabalhou nas oficinas de tratamento químico da ENU durante 25 anos, tendo saído em 1993.
«Deram-me uma indemnização de 1.500 contos e eu fui para tribunal», declarou.

Problemas de saúde
O antigo funcionário contou que foi sujeito a várias intervenções cirúrgicas em resultado de um acidente que sofreu.
«Um dia a tubaria rebentou e fui atingido com ácido sulfúrico. Estive um ano internado, porque tiveram de fazer vários enxertos, e depois mandaram-me de volta para o mesmo serviço», relatou à Agência Lusa.
«Quem trabalhava na ENU estava sujeito a um desgaste rápido. Muitos sofrem de doenças oncológicas», acrescentou José Luís Cardoso.
«Todos fomos expostos. Igualdade de direitos«, «A morte não tem preço» e «Onde está a vossa responsabilidade? Cumpram, assumam», eram algumas das frases mostradas em cartazes pretos empunhados pelos manifestantes.
O representante dos trabalhadores mostrou-se optimista quanto ao desfecho da votação desta sexta-feira.
«Acredito que os nossos políticos são sensíveis ao problema. Por isso, viemos à casa da democracia pedir que resolva esta injustiça».
Com os projectos de lei dos três partidos e a garantia de apoio do CDS/PP, os ex-trabalhadores mantêm a expectativa em relação ao voto do grupo parlamentar do PS, com o qual não conseguiram reunir-se.
O projecto de lei do PCP é o mais abrangente, propondo que o Estado garanta o acompanhamento médico periódico e gratuito aos trabalhadores e aos seus descendentes directos, o pagamento de indemnizações por doença profissional e o alargamento do decreto-lei nº 25/2005 para que todos que sejam equiparados a trabalhadores de fundo de mina para efeitos de antecipação da idade da reforma.
As propostas do BE e do PSD apenas se referem a esta última reivindicação.


Ex-funcionários da fábrica de urânio
pretendem indemnizações do Estado De visita hoje ao Parlamento, antigos empregados da Empresa Nacional de Urânio esperam que as suas reivindicações sejam consideradas pelo PS
Antigos trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Urânio (ENU) vão estar presentes hoje na Assembleia da República, onde esperam assistir à aprovação dos projectos de lei do Bloco de Esquerda, PCP e PSD que respondem às suas reivindicações.
Os trabalhadores esperam com os projectos-lei dos três partidos e a garantia de apoio do CDS/PP, manter a expectativa em relação ao voto do grupo parlamentar do Partido Socialista, com o qual a comissão de antigos trabalhadores da ENU não conseguiu reunir.
António Minhoto, porta-voz da comissão, lembra as afirmações de Miguel Ginestal (PS) num plenário na Urgeiriça em Abril de 2005, a admitir que o Estado tinha “uma dívida para com os trabalhadores da ENU que era preciso pagar”.
Nesse plenário, Miguel Ginestal considerou que “o país deve muito às minas do urânio, que foram factor de receita económica muito importante para os cofres do Estado” acrescentando que “o país nunca retribuiu aos trabalhadores e às minas aquilo que estes lhe deram”.
Para António Minhoto foi depois deste dia que “começou verdadeiramente a luta dos trabalhadores, unidos por todas as reivindicações”.
Vítor Morais, trabalhador da ENU entre 1976 e 1991, é um dos que irá à Assembleia da República. Lembra que quando aos 22 anos começou a trabalhar na empresa sabia que “o urânio era perigoso quando usado nas bombas”, mas os riscos de exposição à radioactividade eram “totalmente desconhecidos”. Hoje também reivindica ao Estado o pagamento da dívida.
As reclamações dos ex-funcionários da ENU passam por serem submetidos a exames médicos regulares, abrangidos pelo decreto-lei n. 28/2005, que dá benefícios na idade da reforma, e que os familiares dos que morreram com cancro por causa da radioactividade recebam indemnizações.
Desde essa altura que os trabalhadores da ENU, como forma de protesto, realizaram vários plenários, uma queixa ao Provedor da Justiça, uma vigília junto às instalações da ENU, na Urgeiriça, uma concentração em Viseu frente aos edifícios da Segurança Social e do Governo Civil e outra na Casa da Música do Porto, no arranque da presidência portuguesa da União Europeia.
Mantiveram também reuniões com chefes de gabinete e assessores dos ministérios do Trabalho e da Economia. “Na reunião com o Ministério da Economia fomos informados de que seriam eles os interlocutores do Governo com os trabalhadores para todas as questões, pensámos que teríamos ali algum feedback às nossas reivindicações, mas assim não foi, porque posteriormente nunca nos atenderam”, recorda António Minhoto.
Desta forma, na visita ao Parlamento, os trabalhadores esperam que o PS entenda que esta “não é uma questão partidária”, mas de justiça social, lembrando que até o próprio Bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, se solidarizou publicamente com a sua luta.
António Minhoto confidencia que, se assim não for, “nas eleições de 2009 iremos apoiar os partidos que estão ao lado dos trabalhadores” e que a partir de sexta-feira, “estaremos presentes a fazer as nossas reivindicações em todas as deslocações de membros do Governo ao distrito de Viseu para inaugurações”.

Bernardo Serra Cruz chegou-se ali lentamente, entrou na boca de uma garagem de Urgeiriça, minúscula localidade da freguesia de Canas de Senhorim (concelho de Nelas), demasiado vergado ao apoio da muleta. Falou só três vezes, as três para se enganar "Isto é uma doença normal, é como outra qualquer; eu dei um pontapé na morte, é isso que me interessa; sinto-me bem, nunca cheguei a desanimar". Mas Bernardo não falou - esfrangalha-se para falar, a mão arrolhada no buraco aberto na faringe - da úlcera que lhe fulmina os intestinos, do tumor que lhe esburaca a traqueia, da prisão que lhe embaraça o andar. Aos 65 anos, 27 consecutivos como fiel de armazém das Minas da Urgeiriça, Bernardo quer uma mesma coisa - "justiça!" - em três pontos concretizadas: ser submetido a exames médicos regulares; ficar abrangido por um decreto-lei (nº 28/2005, de 10 de Fevereiro) que dá benefícios na idade da reforma; e que os familiares dos que morreram com cancro devido à radioactividade recebam indemnizações."Vamos levar a bofetada"É diferente dos outros, Bernardo, dos outros 300 ex-trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) que ali laboraram até 1991 às ordens do Estado? Não, nem na esperança que mantêm na vida. Hoje, cerca de uma centena de antigos operários da Urgeiriça fazem descer duas camionetas a Lisboa, para ver a votação de projectos lei que lhes podem conceder os benefícios reclamados. Não saberão ainda que o PS, maioria governante, se prepara para lhes chumbar as pretensões sugeridas pela Oposição.
Não sabem mas antecipam "Vamos levar uma bofetada, já sabemos isso. Mas nunca deixaremos de lutar", notifica António Minhoto, líder achado da comissão de trabalhadores daquela pequena terra fria do planalto beirão, incrustada entre duas serras, a Estrela e o Caramulo.
"Conheço essas pessoas, fui ali pároco durante vários anos, sei que se clama por justiça", escreveu na semana passada D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, numa tomada de posição muito pública. E, sugerindo com acuidade que todos somos mineiros da Urgeiriça - porque o Estado somos nós -, pergunta "Até quando vemos o Estado adiar a justiça, a protelar pagamento aos credores, a injustiçar aqueles que nele confiam?".
115 já examinadosDas três reclamações dos da Urgeiriça, uma só está atendida a realização de exames médicos, extraordinários e abrangentes, para hematologia, pneumologia, urologia e ginecologia. Até final do mês passado, 170 ex-trabalhadores tinham passado pelo médico de família, no Centro de Saúde de Nelas; destes, 115 já fizeram exames totais no Hospital de Viseu. Os restantes estão a ser observados até final do ano, diz ao JN Eugénio Cordeiro, da Administração Regional de Saúde do Centro e membro do grupo de coordenação do Instituto Ricardo Jorge, que elaborou o relatório sobre os efeitos do urânio na população da Urgeiriça - e que dá prova da contaminação da população envolvente das minas e sua escombreira quando refere a concentração de polónio e chumbo no cabelo das pessoas, pormenor que estende o contágio a todos os que, mesmo indirectamente, trabalharam dentro da estatal ENU.
"Nos 115 já examinados, a patologia mais observada é a das doenças respiratórias", revelou ao JN Bernardino Campos, delegado de saúde de Nelas, que no entanto, se escusou a adiantar conclusões. "Por minha vontade, dentro de um mês estes resultados parciais serão divulgados", diz o outro clínico, Eugénio Cordeiro, "mas isso compete à tutela".
Dir-se-ia que o buraco continua aberto, ali e à volta da Zona Industrial de Tratamento Químico da Urgeiriça e da microcidade que se ergueu à sua volta; dir-se-ia que não acabou em 1990, quando terminou a exploração naquele aglomerado agora com cáries, o cadáver do elevador de ferro permanentemente na paisagem.
Dir-se-á que se pode tirar o mineiro da mina, mas não se pode tirar a mina de dentro do mineiro. É por isso que Alfredo Magalhães, 75 anos, Carlos Rocha, 49, e Emília Costa, 70, se reúnem no fundo escuro da garagem com Bernardino? Talvez - porque todos eles sofrem na carne diferentes tipos de cancro. Lembram agora, outra vez, a frase que toda a população do local não esqueceu "Há uma dívida do Estado para com os mineiros", frase dita por Miguel Ginestal, deputado do PS por Viseu, num emotivo plenário da ENU, em 2005. Confrontado ontem pelo JN com essas declarações, o deputado socialista, que se encontra temporariamente nos EUA, responde, por escrito, que "o Governo PS tem vindo a pagar essa dívida desde que em 2005 iniciou funções". E relembra mais trabalho feito para lá dos trabalhadores "A segunda fase da requalificação da Barragem Velha está em conclusão; no dia 22 de Fevereiro foi lançado o concurso público para a monitorização de controlo periódico e contínuo nas minas da Urgeiriça, Quinta do Bispo e Cunha Baixa".

Guia para entender o caso dos
ex-mineiros da Urgeiriça

Empresa Nacional Urânio
Sediada na Urgeiriça (Canas de Senhorim, Nelas), a Empresa Nacional de Urânio teve a seu cargo, desde 1977, a exploração de minas de urânio no país. Entrou em processo de liquidação em 2001; encerrou definitivamente no final de 2004. Entre 77 e 91 (quando começaram os despedimentos) chegou a empregar 600 trabalhadores, estando espalhada por quatro distritos Viseu, Guarda, Coimbra e Castelo Branco.
EDM recupera minas
A Empresa de Desenvolvimento Mineiro sucedeu à ENU. É hoje concessionária para o exercício da actividade de recuperação ambiental das áreas mineiras degradadas - há 61 minas de urânio em Portugal.

Efeitos no ser humano da exposição ao urânio
No caso particular das minas de urânio, os isótopos (átomos de um mesmo elemento que diferem entre si quanto ao número de massa) radioactivos são de várias ordem os pós do mineral em suspensão no ar, que contêm todos os elementos da cadeia de urânio; o radão 222 formado no seio da rocha, que se desprende na atmosfera durante a extracção e o tratamento. O radão emite elementos radioactivos sob a forma de partículas ultrafinas e com elevada difusão. Estas partículas fixam-se muito rapidamente nos aerossóis da atmosfera, formando aerossóis radioactivos de emissões alfa (Polónio 218 e Polónio 214).

Doenças mais frequentes nos operários de minas
Tanto os pós como os derivados do radão depositam-se no aparelho pulmonar através do processo inalatório. Quando a quantidade de radão acumulado nos pulmões é excessiva, produz-se o cancro pulmonar, uma das mais graves, e frequentes, doenças pulmonares de obstrução crónica. Também muito frequente em operários de mina é a perturbação da tiróide, que afecta todo o funcionamento das funções orgânicas. A silicose, patologia conhecida como a "doença dos mineiros", é devida à inalação de poeiras sílicas (minério constituinte do granito). A silicose é um problema genérico de todas as minas, incluindo as minas de urânio.
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Compilação e adaptação de efeneto
Fontes:
Jornal de Noticias
Portugal Diário
Diario XXI [a beira online]
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março 03, 2008

Trabalhadores da ENU

Vê lá companheiro! Vê lá!
Vê lá, como… venho… eu!

São 80, o número de ex-trabalhadores da ENU que morreram nos últimos cinco anos. Os sobreviventes, quase todos doentes do foro oncológico, ainda encontram genica para contar as suas histórias de alegrias passadas, da camaradagem, da cumplicidade, mas também da violência de como era trabalhar a cerca de 800 metros de profundidade cavando incessantemente buracos e mais buracos como se de uma "desgarrada" se tratasse.
Nos rostos têm as marcas da dor: de terem visto precocemente muitos dos seus companheiros de trabalho partirem; da impotência para poderem dar consolo e ajuda às muitas mulheres que também precocemente enviuvaram, ficando com os filhos nos braços para criarem; da revolta de quem explorou riqueza das entranhas da terra "para enriquecer o País" e agora se sente absolutamente ignorados pelos senhores do governo, que tanto "enchem a boca" de solidariedade e justiça.

Os estudos divulgados afirmam claramente e comprovam os efeitos da exposição prolongada a ambientes com presença de urânio como demonstram os relatórios já conhecidos, dos quais o Dr. José Marinho Falcão, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, na síntese que faz, constata que "existe, desde há muitos anos, evidência científica de que os mineiros de urânio têm risco acrescido de desenvolver neoplasias malignas, nomeadamente cancro do pulmão".

Dezasseis anos depois do encerramento das minas não há decerto nenhuma família que não tenha sido atingida pelo desespero de ver um familiar com cancro, que se tornou naquele lugar de Canas de Senhorim, Nelas uma palavra "maldita".

Dezasseis anos depois existem ainda 150 toneladas de urânio armazenadas no complexo das minas da Urgeiriça e, 79 milhões de euros é a verba necessária para a resolução dos problemas associados ás explorações uraníferas abandonadas na região centro (tanto quanto custaram as reformas em 2007 de apenas cinco ex-administradores do BCP).

Os ex-trabalhadores da ENU têm desenvolvido uma luta exemplar para que todos, mas todos, os que trabalharam nas minas e suas famílias vejam reconhecidos os seus direitos.

Foi por isso que o Bloco de Esquerda, em 13 de Maio de 2005 apresentou um Projecto de Lei (77/X), que tinha como objectivo alargar a todos os trabalhadores os direitos timidamente conseguidos com o Decreto-lei 28/2005 de 10 de Fevereiro.

Passou a 1ª sessão legislativa, passou a 2ª sessão legislativa e o PS sempre recusou o seu agendamento para discussão em plenário.

Com as novas regras regimentais que entraram em vigor nesta sessão legislativa, e que obrigam à discussão de todas as iniciativas apresentadas, apresentámos de novo esta questão consubstanciada em dois Projectos de Lei: 412/X entregue em 11 de Outubro e 464/X entregue em 22 de Fevereiro de 2008.

O que pretendemos é resolver de vez a hedionda injustiça de que foram alvo tantos quantos deram a vida à mina, que deixou um rasto de morte e doença nos trabalhadores e suas famílias.

O desprezo com que o governo tem tratado esta situação é absolutamente inqualificável. O mínimo que têm obrigação de fazer é pagar "parte" da imensa dívida que têm para com todos eles, homens, mulheres e crianças.

Estamos cá para no próximo dia 7 de Março ver se os deputados e deputadas do PS têm a coragem de votar contra os Projectos de Lei do BE e do PCP.

Para que em surdina não mais se diga: ... Do sangue dum camarada... Vê lá companheiro... Vê lá, como... venho eu!

Mariana Aiveca...Esquerda.net

Gentileza de Farpas