O portal de Canas de Senhorim

maio 31, 2007

para lembrar o Dia Mundial da Criança...



AS FOTOS SÃO A NOSSA IMAGINAÇÃO...

(...)Na cidade de Basra, o legado da Guerra do Golfo é ainda mais aterrador: há uma espécie de epidemia de cancro associada ao urânio empobrecido, um desperdício radioactivo usado nas munições. Com toda a fauna e flora contaminada, as deformidades verificadas à nascença espelham o que aconteceu nas ilhas do Pacífico depois dos testes nucleares feitos durante os anos 50. Há bebés que nascem sem olhos, cérebro, e com órgãos internos à vista. Para Doug Rooke, um especialista em radiação que trabalha para o Pentágono, o que acontece na cidade de Basra não tem descrição: «O Iraque é uma terra envenenada».
http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=27791
(...) Nos últimos doze anos, o único tratamento médico para as crianças iraquianas doentes de leucemia e de tumores nunca vistos, tem sido o regaço das suas mães acariciando-as com um movimento pausado, cansado e monótono, acompanhando-as nesse terrível caminho de dor e sofrimento que as leva à morte.
Essa foi uma herança da guerra do Golfo de 1991. Guerra que contaminou o Iraque com urânio empobrecido. O embargo, e a falta de piedade dos governantes, fez o resto. Em doze anos a herança da guerra matou mais de um milhão e meio de iraquianos, a maior parte crianças.
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=2601
(...)Entre os vários objectos roubados estão barricas de urânio, vendidas a dois dólares, depois do seu conteúdo ter sido deitado para o esgoto. Os recipientes estão a ser usados como reservatório de água, cereais ou para lavar roupa.
«Muitas crianças e adultos sangram do nariz e sentem-se mal, sentem-se cansados e muitos vomitam. Ouvimos falar de casos de morte e muitos sintomas de doenças provocados por radiações», revela o porta-voz da organização.
As medições de radiactivodade feitas pela Greenpeace em Tuwaitha registam valores 300 vezes superiores ao normal no pátio de uma escola.
http://tsf.sapo.pt/online/internacional/interior.asp?id_artigo=TSF123093
(...)Num conjunto de 251 soldados de um grupo de estudo no Mississipi que haviam tido bebés normais antes da Guerra do Golfo, 67 por cento dos bebés do pós-guerra nasceram com defeitos severos. Vieram à luz sem pernas, braços, órgãos ou olhos ou manifestaram patologias do sistema imunitário e sanguíneo. Agora, em algumas famílias de veteranos, os únicos membros normais ou saudáveis são as crianças nascidas antes da guerra.
O Department of Veterans Affairs declarou que não mantem registos de nascimentos defeituosos verificados em famílias de veteranos. Como fizeram eles para esconder isto?
Antes que um novo sistema de armas possa ser usado, ele deve ser plenamente testado. O plano para armas de urânio empobrecido é um documento do Projecto Manhattan de 1943, entretanto desclassificado.
http://oam.risco.pt/arquivo/2006_05_01_archive.html

maio 30, 2007

A Urgeiriça...na blogosfera.


nuvens...negras...

Nuvens negras sobrevoam os ceús da Urgeiriça.
Pior que as nuvens é o radão residual que impregna a atmosfera e que vai fazendo caminho pela vida das populações e o sangue dos trabalhadores.
Não é a silicose dos mineiros o que reduz a vida de quem deixou na mina, nas minas de urânio e na unidade de processamento do "bolo amarelo", o seu tempo, o seu trabalho e a sua vida. São os derrivados radioactivos, o césium e o torium, é o gaz inodoro e invisível, o radão, que deixa as suas marcas, que o tempo se encarrega de desenvolver...
Cordas vocais cortadas, tiroides tiradas, e o iodo a colmatar o défice, quando este não atinge o pulmão, o figado ou outro orgão...que levou tantos.
No encontro a pergunta que salta de uns para outros é: -como estás, temendo resposta...
Na Urgeiriça a escombreira é recurso para "construtores civis"... quando a areia não invade a estrada e os miudos nela rebolam.
Tudo aqui lembra o neo-realismo no seu melhor, as estórias, as vidas, a tia Ilda, o vetusto hotel, as casas senhoriais, a cabidela de coelho...Tudo isto existe, tudo isto é triste, há que mudar o fado.
............................//.............................
Ai Paulinha, Paulinha...
Recordei-me da Catherine Deneuve ( não sei porquê!) a olhar a caixinha na Belle de Jour ao ler que o P.P. tinha dito que para ele e os seus amigos ( nazis!) o Arbeit mach Frei ( o trabalho liberta).
Eles (os PPs) ainda vão descer mais baixo, esta gentalha só é superada pelos mestiços do PNR (claro que mestiços somos todos, só que eles como têm o neuróniozinho esturricado ainda não se deram conta...).
E lembrei-me de quando há vinte e tal anos referi num colóquio em Viseu que as minas da Urgeiriça e a estação de processamento eram uma fonte de enormes poluições ambientais e de problemas graves na saúde das populações e dos trabalhadores, como cancros, leucemias e impotência e que a única liberdade era encerrar os estaleiros e libertar do trabalho os trabalhadores antes que a morte os liberte da vida.
Claro que na altura quase fui agredido, por um delegado sindical como mentiroso. Hoje gostei de o ver vivo (pareceu-me que era ele!) e a dizer o que eu na altura disse, pena tantos terem morrido e tanta terra ter sido contaminada e tantos outros puderem vir a ser desta levados pela ceifeira, antes do tempo.
Claro que o trabalho não liberta, nem a Catherine Deneuve nos disse alguma vez o que estava na caixinha.
O trabalho é base da sustentabilidade o que liberta é o espirito.
E em relação ao trabalho o que é necessário é que cada um cumpra as suas obrigações e honre os contratos com transparência e no caso da ENU e do Urânio o que é de exigir é monitorização regular de toda, toda a população do zona da Urgeiriça e de outras zonas mineiras e especialmente de todos os que trabalhavam nas minas e suas áreas. E adequados pagamentos aos que lá trabalhavam (em tempo de reforma e montante compensatório desta e indeminização justa aos familiares dos que morreram).
E recuperar, adequadamente, e monitorizar permanentemente, as terras e estruturas construídas das zonas.
O Estado não liberta, honra os seus compromissos para com os que para ele em condições de alto risco, trabalhavam.É essa a direrença entre o nazismo e o Estado democrático, e de direito!

maio 29, 2007

Uma ideia a ter em conta...

Á seguinte publicação..."Uma luz ao..." , recebi um comentário do amigo "FARPAS" muito interesante e oportuno, do qual, aqui e agora vou partilhar com os leitores. O problema existe e tem que ser resolvido, ou pelo menos dar a conhecer futuras soluções. Aqui fica o referido comentário para quem quiser ler e aproveitar a oferta do amigo.

Farpas disse...
A Universidade do Algarve está desde o Verão passado a desenvolver a segunda fase de um projecto que depois de me informar ainda não percebi porque é que a Urgeiriça não foi incluída e o porquê desta falta de interesse pelas novas tecnologias da parte das pessoas responsáveis que o poderiam trazer para cá. O projecto está a ser conduzido por uma amiga minha e baseia-se num novo processo capaz de, simultaneamente, neutralizar a acidez das águas de mina, reduzir o seu teor de sulfatos e eliminar os metais pesados, de modo a obter efluentes com concentrações inferiores aos valores limite de emissão para descarga de águas residuais, ou mesmo inferiores aos valores máximos admissíveis para as águas destinadas a rega, isto através de bactéria redutoras de sulfato. Estas bactérias conseguem reduzir enzimaticamente o U(VI), tóxico e solúvel, a U(IV), facilitando a sua precipitação como uranite (UO2).Sabendo eu que a equipa de investigação esta aberta a desenvolver estudos no terreno que conduzam à descontaminação de zonas afectadas gostava que alguém com alguma influência tomasse a iniciativa de os contactar. Eu posso fornecer os contactos das pessoas que estão à frente do projecto e até falar com elas. O projecto está registado na FCT com o código POCI/AMB/58512/2004. Seria interessante se a Urgeiriça se associasse a este estudo.
28 de Maio de 2007 23:54

maio 28, 2007

A Urgeiriça...na RTP

Postado Por Farpas http://municipiocds.blogspot.com/

Uma luz ao...

Como é que se respira sem oxigénio?
Quatro investigadoras da Universidade Nova de Lisboa
descodificam estrutura que permite respiração
dos microrganismos anaeróbios.
Duas investigadoras, uma estudante de doutoramente e outra de pós-doutoramento do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa determinaram pela primeira vez em Portugal a estrutura tridimensional de uma proteína ligada à membrana celular.
As investigadores do ITQB identificaram o complexo proteico que permite a respiração dos microrganismos anaeróbios sem recurso ao oxigénio. Chama-se "citocromo c nitrito reductase". A descoberta é um importante passo pois permite compreender como é que existe vida sem oxigénio.
O estudo, que começou em 2000, foi anunciado hoje na edição "on-line" da revista EMBO Journal com um artigo que se intitula "X-ray structure of the membrane-bound cytochrome c quinol dehydrogenase NrfH reveals novel haem coordination".
No estudo participou Inês Cardoso Pereira e Margarida Archer, investigadoras auxiliares, Maria Luísa Rodrigues, investigadora em pós-douturamento, e Tânia F. Oliveira, estudante de doutoramento, todas do ITQB.
Os microrganismos anaeróbios estão presentes em todos os habitats onde o oxigénio não chega, como o intestino humano, e têm que recorrer a outras alternativas para respirar.
A estrutura revelada pelas jovens investigadoras mostra como funciona o complexo membranar "citocromo c nitrito reductase" na cadeia respiratória de bactérias que utilizam o nitrito. Ela desempenha um importante papel no ciclo global do azoto, ao converter o azoto inorgânico numa forma utilizável por outros organismos.
"Foi bastante difícil isolar a proteína e fizemos imensos ensaios. Torna-se difícil porque a técnica usada requer a purificação e cristalização da proteína", explicou ao JPN Inês Cardoso Pereira.
Aplicações práticas
A aplicação prática desta inovadora descoberta passa pela utilização da proteína na descontaminação de solos ou ambientes aquáticos. A este processo chama-se biorremediação que se explica pelo uso de microrganismos ou suas enzimas para degradar compostos poluentes.
"Há problemas nos solos por causa dos lixos radioactivos, como é o caso do urânio. O urânio espalha-se pelos lençóis freáticos e polui o solo. Então usa-se a biorremediação com esta proteína para reduzir o urânio, pois a proteína não é solúvel em água", afirma a investigadora.
Joana Vasconcelos
http://jpn.icicom.up.pt/

maio 24, 2007

A Nossa Padroeira...II


I............................II

III.......................... IV

V
......................................................................
I-St Barbara - 1437 de Jan Van EyckBrushpoint
on plastered panel34 x 18.5 cmKoninklijk
Museum voor Schone Kunsten Antwerpen

II-Santa Bárbara, virgem e mártir

III-ARMA DE ARTILHARIA
SANTA BÁRBARA0
4 DE DEZEMBRO

IV-Santa Bárbara, Oficina de António Ferreira
Século XVIIII (meados),
Terracota policromada.

V-Santa Bárbara,
gravura de Gabriel M. Rousseau,
a partir de obra de Francisco Vieira Lusitano. 1736.

maio 23, 2007

A Urgeiriça...no "O Primeiro de Janeiro"

EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineiro, SA
Reabilitar para valorizar e preservar.
A EDM desempenha um papel preponderante na elaboração e condução de projectos de recuperação ambiental de zonas degradadas por antigas explorações mineiras abandonadas, como nos conta Delfim Carvalho, presidente do Conselho Executivo da EDM, em entrevista ao jornal «O Primeiro de Janeiro». Ao abrigo do decreto-lei n.º 198-A/2001, que estabelece o regime jurídico de concessão do exercício da actividade de recuperação ambiental das áreas mineiras, a EDM assegura os trabalhos de inventariação, de caracterização pormenorizada, tendo como suporte ferramentas tecnológicas de primeira linha, a elaboração de planos directores, os projectos de execução e de estudos ambientais associados, a preparação e lançamento de concursos e empreitadas, o acompanhamento e fiscalização das obras e acções de monitorização, bem como acções de formação e de investigação aplicada, dando cumprimento aos objectivos consignados na concessão.
De acordo com Delfim Carvalho, presidente do Conselho Executivo da EDM, esta intervenção introduziu uma nova área de actividade especializada no País e gerou uma dinâmica que mobilizou mais de uma centena de entidades, empresas e técnicos especialistas. O nosso entrevistado salienta ainda que: “o investimento global, no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio, ronda os 41 milhões de euros, servindo para dotações orçamentais para o efeito disponibilizadas nos Programas Operacionais, Nacionais e Desconcentrados, da Economia e no Programa Operacional do Ambiente”.
De referir que os trabalhos que já foram realizados, as intervenções em curso e a desenvolver até 2013 totalizam um total de investimento de 153 milhões de euros, dos quais 113 milhões são requeridos no período de 2007/2013. Delfim Carvalho assegura que “no terminus do programa, os 75 casos mais graves das 175 áreas mineiras estarão solucionados”. O nosso entrevistado refere ainda as intervenções em outras áreas mineiras, estas de menor dimensão e menor importância, que foram submetidas para serem realizadas no âmbito do QREN (Quadro de Referência Estratégia Nacional) entre 2008/2013, sendo previsto um investimento de 11 700 000 euros em Viseu, Bragança, Porto, Aveiro e Vila Real.
Segurança, monitorização e controlo.
A EDM garante a vigilância regular para a detecção de problemas, ou anomalias de âmbito técnico e ambiental nos distintos casos das 65 antigas minas de urânio existentes no País, tendo como objectivo anular os riscos para a segurança de pessoas e bens, muito em particular nos casos em que a minas estão próximas a aglomerados populacionais. Delfim Carvalho dá especial destaque a um sistema de recolha e tratamento centralizado de dados provenientes da monitorização de efluentes líquidos de áreas mineiras. Num primeiro estádio, foi dada prioridade às antigas minas de radioactivos, onde se realizara, tratamentos químicos na exploração, ou seja, “Cunha Baixa, Urgeiriça e Quinta do Bispo”, como nos exemplifica o nosso entrevistado.
Alertar consciências. Delfim Carvalho alerta para a importância da reconversão das minas, tendo em vista um projecto turístico, tal como acontece na vizinha Espanha, uma vez que falamos de um património riquíssimo e de uma parte da nossa história que vale a pena preservar. No entanto, é indispensável que as forças e entidades locais interiorizem esta ideia e esta forma de preservação do nosso património.
...
http://www.oprimeirodejaneiro.pt

A Urgeiriça...no "Diário de Aveiro"

Entrevista a D. António Marcelino: «Só um optimista pode ser lutador»
Primeiro como bispo coadjutor (1981-1988) e depois como bispo residencial, D. António Marcelino esteve quase 26 anos à frente da diocese de Aveiro. Amanhã entra em funções o seu sucessor, D. António Francisco dos Santos. Proveniente de uma família de carpinteiros de Lousa, Castelo Branco, D. António Marcelino, actualmente com 76 anos, garante que vai manter-se dinâmico. «Quem viveu uma vida tão activa como a minha não pode parar», refere em entrevista ao Diário de Aveiro.
Nasceu em Lousa. Como era a sua aldeia-natal?
É a melhor do mundo, a mais bonita de todas as aldeias [risos]. A nossa terra é sempre a melhor de todas. É uma aldeia simples, a poucos quilómetros de Castelo Branco, de gente rural, ou mais do que isso em alguns aspectos... Carpinteiros, pedreiros... O meu pai era carpinteiro, o meu avô era carpinteiro, o meu bisavô era de uma família de carpinteiros, os Marcelino... Éramos cinco irmão, eu era o quarto, só tinha uma irmã mais nova, que é a única ainda viva. Somos os que restamos.
...
Vem de uma família de carpinteiros. D. António Marcelino é um carpinteiro gorado? Logicamente que se porventura não tivesse entrado no seminário é possível que tivesse começado como carpinteiro; mas depois como acabaria não sei. O meu irmão mais velho começou a trabalhar com o meu pai mas depois foi funcionário público, na Junta de Energia Nuclear, e reformou-se em Canas de Senhorim, nas minas da Urgeiriça. Outro meu irmão foi carpinteiro sempre e emigrou para França com essa profissão. Eu fui por outro caminho, mas ainda hoje quando vou às serrações gosto do cheiro da serradura... Mas de facto podia ter sido carpinteiro, não sei... Há um episódio curioso na minha vida: quando andava na escola primária, na minha terra não havia quarta classe e quando acabei a terceira classe o professor disse ao meu pai: «o miúdo gosta de aprender, deixa-o ficar aqui mais um ano, ele ajuda os mais pequenos...» E no ano seguinte já pôde haver a quarta classe. São episódios que mudam uma vida. Se saísse da escola no fim da terceira classe ia trabalhar com o meu pai e o meu avô e por aí continuaria. Mas como fui para a quarta classe, veio um padre que gostou muito de mim e disse-me para ir para o seminário.
...
http://www.diarioaveiro.pt/main.php?srvacr=pages_13&mode=public&template=frontoffice&layout=layout&id_page=536

maio 21, 2007

A Urgeiriça...no "Diário Regional de Viseu"

"Viseu tem uma saúde razoável"

Em Viseu não existe nenhum problema grave em termos de saúde, garantiu o Ministro da Tutela, Correia de Campos, durante a sua deslocação à cidade. Perante uma sala cheia de funcionários e profissionais da área, o responsável fez um retrato bastante optimista da região e mencionou algumas das alterações que estão previstas.
O S. Teotónio, por exemplo, vai dar lugar a um centro hospitalar, juntamente com a unidade de Tondela, que passará a ser gerido por dois elementos que se encontram actualmente na direcção do primeiro. À estrutura poderá juntar--se ainda a de Seia, frisou Correia de Campos.
Quanto a Lamego, o ministro explicou que a cidade vai ficar equipada com um hospital de "características especiais", tornando-se na primeira unidade de proximidade do país.
"Viseu tem uma saúde razoável", acrescentou durante o encontro, no qual falou de uma problemática que se vem arrastando há já algum tempo: as exigências dos antigos trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Urânio (ENU). Assim, o membro do Governo adiantou que embora não haja evidências de que a população das zonas onde estão localizadas as antigas minas tenha um risco superior em termos de doença, o mesmo já não acontece com os antigos funcionários.
Deste modo, Correia de Campos adiantou que os antigos mineiros devem ser objecto de um exame geral e de um acompanhamento recorrente, de modo a que, caso seja detectada alguma patologia, "a assistência seja rápida".O apoio a este nível poderá passar pelo estabelecimento de um protocolo com o Hospital de S. Teotónio, não só em termos de assistência médica, mas também no que diz respeito à garantia de que são criadas todas as condições para a realização dos exames.
...
http://www.diarioregional.pt/6452.htm

Sempre prontos a ajudar...


Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim

maio 19, 2007

O Urânio...Parte II

DONDE VEIO O URÂNIO?
Actualmente o urânio é identificado numa Tabela Periódica pelo símbolo atómico U, e com o número atómico 92 (número de protões no núcleo de um átomo). Trata-se de um elemento metálico radioactivo e branco, com um ponto de fusão de 1132º C, e que se encontra na natureza em três isótopos, sendo o isótopo um de dois ou mais átomos do mesmo elemento que têm o mesmo número de protões nos seus núcleos, mas diferem no número de neutrões. Estes isótopos são representados por: 238U, 235U e 234U. Como o 235U sofre fissão nuclear, é usado como combustível em reactores nucleares e em armas nucleares; o urânio obteve assim uma grande importância técnica e política. Mas donde veio o urânio?

Urânio na Terra

A descoberta do urânio, o elemento metálico natural mais pesado (o hidrogénio é o mais leve), foi descoberto na Terra por Klaproth em 1789, mas a sua origem ainda não é totalmente compreendida.
O urânio é facilmente encontrado na crosta terrestre. Cerca de 500 vezes mais abundante que o ouro e tão comum como o estanho, está presente na maioria das rochas e nos solos, assim como em rios e oceanos. Algumas áreas à volta do globo terrestre apresentam concentrações de urânio nos solos suficientemente elevadas, para que a sua extracção, para uso como combustível nuclear, seja economicamente aceitável. Em média, a abundância do urânio em meteoritos é de cerca de
0,008 ppm (partes por milhão), a abundância na crosta continental é de cerca de 1,4 ppm. A concentração de urânio é muitas vezes expressa em termos de óxido de urânio (U3O8), que é aproximadamente a composição química dos óxidos de urânio que ocorrem normalmente na natureza. Mas mais uma vez nos ocorre, donde veio o urânio que extraímos da Terra? A resposta está nas estrelas...

Introdução à Fusão Nuclear

A fusão nuclear é um processo de produção de energia que tem lugar continuamente, no Sol e nas estrelas. Vários tipos de fusão nuclear são possíveis, dependendo da massa da estrela em questão, uma vez que esta terá um papel importante nos produtos finais da fusão. No centro do Sol, para temperaturas entre 10 a 15 milhões de graus Celsius, o hidrogénio (H) é convertido em hélio (He) fornecendo energia suficiente para promover a vida na Terra. O Sol é composto por cerca de 70% de H e 28% de He, além de outros elementos mais pesados que existem em menor quantidade. As enormes temperaturas e pressões que reinam no núcleo do Sol provocam a colisão e a fusão dos núcleos de H. A fusão do hidrogénio para as temperaturas semelhantes às que ocorrem no nosso Sol, envolvem as seguintes reacções contendo positrões (e+), neutrinos (υ) e raios gama (γ).

Na primeira reacção, dois núcleos de hidrogénio colidem entre si, levando à formação de um núcleo de deutério (hidrogénio com um protão e um neutrão no seu núcleo, representado por 2H) com a libertação de um neutrino, e de um positrão (representado por e+).
Posteriormente, o deutério (2H) junta-se a mais um núcleo de hidrogénio (1H), criando assim um núcleo de hélio-3, representado (3He) com libertação de raios gama (γ)
Ambos os processos podem ocorrer: uma nova colisão do núcleo de hélio-3 com um núcleo de hidrogénio ou a colisão de dois núcleos de hélio-3, tendo como produto final comum o núcleo de hélio-4.
Estas reacções fazem parte do ciclo protão-protão .

Trata-se de uma forma resumida do processo, onde se verifica que partindo de núcleos de hidrogénio (H) obtêm-se núcleos de um novo elemento, o hélio (He), além de positrões (de carga contrária aos electrões) e de neutrinos. Esta reacção não regista no entanto um dos factores mais importantes neste processo... A libertação dos raios gama, que faz deste processo uma fonte de elevada energia. É a partir do hidrogénio que o Sol obtém a sua energia através de reacções de fusão nuclear, que convertem em cada segundo 600 milhões de toneladas de H em 596 milhões de toneladas de hélio. A diferença existente, de cerca de 4 milhões de toneladas é convertida directamente em energia.
É o que acontece para o Sol e para estrelas com massa idêntica. Estas estrelas não possuem massa suficiente para que se iniciem reacções de fusão nuclear que transformem o He em elementos mais pesados. Por isso, vão-se contraindo e transformando todo o seu H em He. Será este o destino do nosso Sol. Desde que nasceu como estrela, já se passaram cerca de 4,5 biliões de anos e estima-se que ainda viva cerca de 4,5 biliões de anos, antes de se tornar numa gigante vermelha e logo depois numa anã branca.
Mas para estrelas com "massa média", ou seja, com massas compreendidas entre 4 a 8 massas solares, a estrela tem um caminho diferente a percorrer. Como a sua massa é muito grande, durante a contracção, após a fusão do H em He, as suas condições de pressão e temperatura no seu interior atingem valores suficientes para que se iniciem reacções de fusão nuclear. Há transformação do He em carbono (C), originando deste modo uma nova fonte de energia. É o caso da estrela Sirius que através do ciclo da fusão do carbono obtém quase toda a sua energia. Quando se esgotar o He do seu centro, o esfriamento provocará uma nova contracção. Se a massa for suficientemente grande, essa contracção poderá aquecer tanto o interior da estrela que novas reacções de fusão nuclear ocorrerão, transformando o C em oxigénio (O), uma nova fonte de combustível. Esta estrela fica assim sujeita a uma sequência de expansões e contracções, durante as quais ocorrerão fusões nucleares de elementos cada vez mais pesados, com consequente libertação de energia. Da massa da estrela dependerá então o tipo de elemento químico que se obterá no seu interior. Mas há um limite para estes elementos químicos: o limite do ferro (Fe). A "construção" de elementos mais pesados através das fusões nucleares nas estrelas é limitado para os elementos abaixo do Fe, uma vez que a fusão do Fe, e de elementos mais pesados que este, iria subtrair energia à reacção em vez de a originar.
Mas uma estrela que tenha um temperamento explosivo irá ter um fim diferente. Para algumas estrelas, quando atingem a fase da fusão do He, a geração de energia pode ser tão intensa que a camada de atmosfera estelar não consegue transportar, para fora do núcleo, a energia gerada. A temperatura e a pressão, no seu interior crescem assustadoramente, até que a pressão gravitacional não consegue mais suportar a pressão térmica, e a estrela explode, ejectando grandes quantidade de matéria e luz, fenómeno conhecido por supernova. Esta fase de uma estrela, que se apresenta para nós de rara beleza, é o anúncio do seu fim, mas o princípio de novos elementos, e por sua vez, de novos compostos químicos. Durante a explosão de uma supernova, a matéria ejectada atinge velocidades muito grandes, cerca de 10000km/s, permitindo que eventuais colisões entre as suas partículas originem fusões nucleares de elementos mais pesados tais como o ferro (Fe), chumbo (Pb), ouro (Au), urânio (U) entre outros.


Remanescente de supernova M1 em Touro (NGC 19522)

E é então deste modo que o urânio aparece entre nós. Durante milhões e milhões de anos, estas explosões trouxeram até nós vários elementos químicos pesados, que de outro modo não seria possível obter naturalmente. A sua existência no meio interestelar e nas nebulosas, devido às supernovas, permitiu que estes elementos estivessem presentes aquando a formação do nosso Sistema Solar, aparecendo assim na composição das novas estrelas e dos novos planetas, entre eles, a Terra!http://www.geocities.com/jmota_pt/quidvu.html

maio 16, 2007

A Urgeiriça na blogosfera

Segunda-feira, 14 de Maio de 2007
“Trabalhadores de talento”
Julie Roberts foi a protagonista do filme Erin Brockovich - Uma mulher de talento - que trata de uma das maiores indemnizações (333 milhões de dólares em 1996) obtida numa batalha judicial a propósito da contaminação da água de bebida por crómio hexavalente ocorrida na cidade de Hinkley na Califórnia.
O crómio hexavalente é tóxico e carcinogénico.Erin Brockovich recolheu elementos sobre várias doenças, cancros da mama e do útero, malformações congénitas, abortos, doenças auto-imunes, e correlacionou-as com o agente químico.É certo que os seus achados foram contestados, e continuam ainda hoje, ao ponto de ser posto em causa a correlação, já que, por exemplo, o crómio hexavalente é carcinogénico se for inalado, ao passo que por via oral é duvidoso. De qualquer modo, e não obstante algumas dúvidas, as 600 vítimas da cidade Hinkley acabaram por ser indemnizadas, demonstrando, mais uma vez, a eterna história de David contra Golias.
Os ex-trabalhadores das minas de urânio da Urgeiriça renovam, de tempos a tempos, a exigência para que o Governo realize exames médicos periódicos e que seja feita a monitorização da contaminação radioactiva naquela região.O relato de vários casos de cancro, que atingiram, e continuam a atingir, muitos ex-trabalhadores, começou há muitos anos. Não deixa de ser curioso o facto da população demonstrar uma percepção do risco. Percepção essa que tem sido comprovada pelos estudos efectuados pelos técnicos.Em 2001 a Assembleia da República aprovou um Projecto de Resolução (nº34/2001) com o objectivo de estudar a situação de saúde da comunidade em questão.
Os relatórios, entretanto já produzidos, apontam para a existência de vários riscos acrescidos para as populações locais, nomeadamente os trabalhadores do empreendimento mineiro.
Como é possível arrastar este processo durante tanto tempo? Será que o Governo ainda não tem evidências cientificas para responder aos anseios e aspirações desta comunidade? Tão célere a fechar maternidades, tão eficiente a fechar as “urgências nocturnas” de certos centros de saúde, tão preocupado em “obrigar” à prescrição de certos medicamentos a nível hospitalar, tão “racional” em controlar os custos – tudo isto com base em relatórios científicos - e tão esquecido em solucionar, ou minimizar o sofrimento de uma população! Como é possível a Direcção-geral de Saúde afirmar que “está à espera da divulgação dos resultados finais do projecto MiNurar para avançar com exames aos antigos trabalhadores”? Mas é preciso um relatório final para actuar?Se não tivesse lido, não acreditava.
Os trabalhadores das minas da Urgeiriça são homens e mulheres de “talento” e devem ser respeitados e indemnizados adequadamente pelo crime ambiental a que foram sujeitos.Em Hinkley, Califórnia, por muito menos, a situação foi resolvida e a reparação feita atempadamente.
posted by Salvador Massano Cardoso
http://quartarepublica.blogspot.com/

maio 15, 2007

Oferta...do "Ai o Camandro!!"


E as pessoas?
Não nasci, nem tão pouco morei na Urgeiriça, mas vivi lá! Muitos e muitos anos, cresci no meio daquelas pessoas, era uma daquelas pessoas, o meu avô trabalhou na ENU (Empresa Nacional de Urânio), eu andei no jardim escola da Urgeiriça, fiz a escola primária na (agora incrivelmente abandonada, ou melhor deixada ao abandono) escola primária da Urgeiriça, brinquei nos parques, brincávamos aos tesouros deixados pelos ingleses, joguei no campo, corria a esperar o meu avô quando a sirene tocava às 5 horas, comia o pão do forno comunitário, ia à marcha atlética, ao cinema e teatro na Casa do Pessoal, jogava ping-pong a 10 escudos,... ri, chorei... sempre me considerei mais da Urgeiriça do que propriamente de Canas... qualquer diferença que haja entre esses conceitos...

...Era uma terra cheia de vivacidade cheia de... pessoas! Hoje por vezes ainda por lá passo mas dou com um "beco sem saída"... desapareceu a vivacidade, desapareceram muitas das pessoas, ... esquecida por já não dar dinheiro como antes, abandonada por um governo que encheu (e enche) os cofres à sua conta... As pessoas?... Passaram a ser mais escolhos da terra que já não dá, também elas esquecidas por quem prometeu mundos e fundos...

E as Pessoas?... removem e reviram terras escondendo os problemas em vez de os resolverem, movem escolhos e requalificam paisagens de maneiras que não lembram a ninguém, constroem muros e barreiras para enganar a Natureza... E as Pessoas?...

Publicada por Farpas http://www.ai-o-camandro.blogspot.com/


fotos: BUTTERFLY

Oferta...do "Município"

Urânio em pó nas Minas da Urgeiriça
Na Mina da Urgeiriça, os portugueses extraíam rádio para as experiências e utilizações práticas que lhe davam os cientistas das primeiras décadas deste século. Portugal deitava fora, para o Atlântico, através do Mondego, o urânio que não servia para nada até à Guerra.
Em 1945, a bomba atómica tornou o minério importante, a era nuclear enriqueceu a Urgeiriça e a exploração do urânio fez-se intensivamente pelos métodos tradicionais. Hoje e desde 1962, processos químicos de extracção substituem, em parte, o trabalho de desmonte do filão, mas o urânio continua a dar dinheiro. Nem se sabe quanto!...
Descemos cerca de 500 metros em profundidade para assistir àquilo a que os técnicos nos acompanham chamam de «lixiviação in situ», o processo que permitiu, a partir de 1962, recuperar o urânio que não era rentável extrair pelos métodos normais utilizados na mina a partir do início da sua exploração (1912).
Uma corrente de água ácida dissolve o urânio que resta nas zonas já desmontadas pelos mineiros e naquelas que o não foram antes por não valer a pena o trabalho. A água, com ácido sulfúrico, permitiu já recuperar 160 toneladas de óxido de urânio, nesta mina. E só uma quinta parte foi tratada por este processo até ao momento.Até 1962, os blocos do filão que pagavam o trabalho foram desmontados a martelo e tiro. Outros blocos, marginais, ficaram intactos, porque o seu teor de urânio era tão baixo que não compensavam. Com a invenção da lixiviação no local, a Empresa Nacional de Urânio vai recuperar minério nas zonas já desmontadas e extrair o que restou da anterior exploração.
Lá em baixo
O trabalho típico do mineiro é, assim, muito reduzido. O ácido faz quase tudo e os operários limitam-se a carregar a lama rica em urânio, bombeá-la para a superfície e, de quando em quando, desviar a água ácida dos seus caminhos preferenciais.
Também se executam alguns ataques ao filão pelos processos tradicionais, com o objectivo de fracturar a rocha nos blocos ainda não trabalhados. Mas a extracção do minério é deixada a cargo dos produtos químicos utilizados na estação de tratamento da empresa, à superfície.Lá em baixo, as galerias estão quase desertas. No fundo do poço, aberto fora da zona mineralizada que é instável não está ninguém.Caminhando, o visitante encontra uma escavadora que foi transportada peça por peça até aquele nível. O processo é lógico: no elevador não cabem mais de seis pessoas. A temperatura sobe um grau centígrado por cada 33 metros que descemos. Não se compara este calor ao gelo da superfície.
O licor rico em minerais é atirado para a superfície a uma altura manométrica de 450 metros por duas bombas, à razão de 40 metros cúbicos por hora. As caldeiras para tratamento deste licor têm uma capacidade muito maior, mas as bombas não suportam mandar mais material para o ar livre.
A água ácida corre em mangueiras com furos da aspersão a intervalos regulares e escorre dos níveis superiores para o último. Quando a lama sobe pelo poço de ventilação para a estação de tratamento, o urânio vai todo, explorado rentavelmente até às PPMs (Parcelas Por Milhão).
Cá em cima
Cá em cima começa a trabalhar a química. O minério inicia a sua vida em bruto. O seu calibre é reduzido na britagem, preparando-se a entrada dos calhaus no moinho.Depois de pesado todo o material é feita uma amostragem que dá aos técnicos o teor de urânio existente em cada quilo de pedra extraída, quando sai do moinho, o material (terra estéril mais urânio) é uma lama fina da qual o ácido sulfúrico extrai o minério.
Quatro agitadores construídos em madeira (um dos produtos mais resistentes ao ácido-há ali um dos agitadores que tem 30 anos de contacto com o líquido corrosivo) tornam a polpa homogénea.
Esta segue para decantadores gigantescos onde os sólidos (lama estéril) são separados dos líquidos (licor rico em urânio).O licor é agora tratado com solventes.Uma amina terciária dissolvida em querosene concentra o urânio existente no líquido. O concentrado de urânio aumenta de um grama por litro para 30 gramas e sofre, em seguida, um processo de precipitação em cubas de amónia. Está agora misturado com cloretos e sódio que é necessário eliminar para tornar o produto conforme com as normas internacionais dos compradores.
Num filtro de vácuo a mistura leva uma injecção de sulfato de amónio a 10 por cento que elimina o sódio. Depois é secado e reduzido a pó, a um pó amarelo: como uranato de amónio é vendido em barris para os Estados Unidos e França.
Céu aberto
A Empresa Nacional de Urânio (ENU) explora ainda, na região da Urgeiriça, dois outros jazigos, chamados da Quinta do Bispo e da Cunha Baixa, que «o diário» visitou.
A Quinta do Bispo está a ser explorada desde 1979 a céu aberto e possui cerca de 364 mil toneladas de minério rico.Para o extrair , a ENU vai retirar deste local, escavando três milhões e meio de toneladas de terra.
Na Cunha Baixa, dão o braço os dois tipos de exploração: o céu aberto e a mina tradicional. Esta última foi abandonada em 1950 quando os minérios a tratar já tinham um teor de corte muito baixo, logo, não rentável.
Escavando, a partir do solo, a empresa de urânio foi encontrar novo filão e atingir o primeiro nível da velha mina. Os materiais extraídos são colocados ao ar livre e regados com a mesma água ácida, seguindo, depois, para a Urgeiriça, para a estação de tratamento químico.
Que fazer ao urânio é uma questão ainda por resolver.
O governo português não possui uma política neste campo e a gerência da ENU não tem directrizes senão verbais. Vai vendendo urânio a preços de ocasião para se manter em funcionamento.A cotação do produto, por seu lado, é hoje metade do que era há dois anos (45 dólares americanos por libra). O movimento anti-nuclear no Mundo contribuiu parcialmente para esta redução, bem como aumento da oferta de urânio, por países como a Austrália que está a extrair 180 quilos de uranato por tonelada de terra.
Postado Por Mr Kunami http://municipiocds.blogspot.com/

maio 14, 2007

Oferta...do "Municipio"


rio de dor


jardim em frente da casa da senhora Ilda Fernandes
Viúva de mineiro, Ilda Fernandes, de 78 anos de idade, tem um ar sofrido. E não é para menos: há 18 anos, o marido falecia no hospital de Coimbra com 51 anos, deixando--lhe oito filhos.Não sabe dizer qual possa ter sido a causa da morte do marido, José Ramos, na altura já reformado das minas com 47 contos mensais (cerca de 235 euros). Mas sabe que ele fez quatro intervenções cirúrgicas, a última delas para "lhe tirarem a bexiga", e já não voltou vivo à Urgeiriça. Ilda Fernandes nasceu em Nespereira de Mundão (concelho de Viseu) e trabalhou nas culturas do arroz em Alcácer do Sal, mas isso foi antes de regressar à Beira Alta. Os filhos partiram há muito e só uma filha vive perto da mina. Enumera os destinos: "Um está em Inglaterra, outros em França, uma filha em Setúbal... Vivo sozinha mais Deus". Pagou a sua casa "sem ajudas de ninguém", vai dizendo. "Até fome passei." Hoje conta apenas com a sua pensão de viúva, metade da auferida pelo marido quando estava vivo. O seu rosto aviva-se um pouco quando fala dos tempos de actividade das minas: "À hora de almoço íamos levar a comida aos portões, para eles mandarem aos maridos lá em baixo [nas galerias] e aquilo era um movimento!...". E garante que se vivia melhor nessa época: "Aqui só havia mineiros, mas nós cultivávamos umas terras, porque o salário era baixinho". O médico aconselhou-a a não se fechar em casa, porque "é pior". Por isso, Ilda Fernandes faz um esforço para passear diariamente, descendo as ruas do bairro operário e regressando depois a casa. O semblante volta a fechar-se quando fala do que lhe é dado ver: "Mete aflição ver isto tudo assim, parado". "Isto" são as instalações fechadas e abandonadas das minas. "Isto" é, também, a evocação dos vizinhos que morreram prematuramente de doenças com nomes esquisitos. "Havia o senhor Gaspar, e o senhor Carvalho, que eram mais velhos do que o meu marido." Só o pequeno jardim em frente da casa, bem tratado e com rosas vistosas, contraria o rio de dor e desesperança em que se transformou a vida de Ilda Fernandes. C.P.

Postado Por ibotter http://municipiocds.blogspot.com/

A Urgeiriça...no "Público PT"

Requalificação ambiental na Urgeiriça já começou.

14.05.2007
Região possui um "elevado potencial de risco radiológico"
As conclusões de um estudo sobre a área de armazenamento dos resíduos das minas de urânio da Urgeiriça, publicado em 2003, não deixavam margem para dúvidas: a presença de concentrações elevadas de radionuclidos conferia a essa escombreira "um elevado potencial de risco radiológico".
A equipa liderada por Alcides Pereira, investigador do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, elaborou um cenário de ocupação daquele espaço, onde seriam desenvolvidas "actividades lúdicas com permanência de trabalhadores em infra-estruturas de apoio". Se nada fosse feito para "limpar" a zona, o nível de radiação manter-se-ia durante centenas de anos e "a dose efectiva para o grupo crítico de trabalhadores" ascenderia a 39 mSv/ano (Sv é a abreviatura de Sievert, unidade internacional de medida utilizada para estabelecer as doses efectivas de radiação, ponderando as diferentes sensibilidades dos órgãos e tecidos face à natureza da radiação ionizante).
Aquela dose, sublinham os investigadores, "corresponde aproximadamente ao dobro do limite estipulado para o grupo crítico na legislação nacional e comunitária aplicável".Os autores fazem referência, no mesmo estudo, a um projecto de confinamento da escombreira, cuja execução conduziria a uma dose efectiva, para o grupo crítico referido, inferior a 1 mS/ano.
Este valor respeita tanto o limite legal aplicável aos elementos do grupo crítico como ao público em geral.A situação naquele local específico das minas da Urgeiriça (uma espécie de lixeira, onde não vive ninguém) "é muito particular", diz ao PÚBLICO Alcides Pereira.
Estudos posteriores, mais globais, encontraram focos de contaminação na área da Urgeiriça, tanto em águas como em terrenos, mas nada que autorize a conclusão de que existe uma contaminação generalizada, sublinha o investigador.
Este e outros estudos de caracterização foram encomendados pela EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro para fundamentar os projectos de recuperação a empreender nas 61 antigas minas de urânio do território nacional.A situação mais problemática, como revela o estudo referido, é na chamada Barragem Velha da Urgeiriça, onde se amontoam mais de 2,5 milhões de toneladas de materiais provenientes da extracção e tratamento de urânio. As obras de estabilização de taludes, selagem e drenagem do aterro começaram em 2006, representando um investimento de 6,5 milhões de euros, e prosseguem este ano.
Carlos Pessoa

A Urgeiriça...no "Público PT"

Quando as minas foram abandonadas, as pessoas também foram.
14.05.2007, Carlos Pessoa

Muitos dos antigos funcionários da exploraçãode urânio da Urgeiriça apresentam cancros e outras patologias graves ou morreram prematuramente.

Depois de atravessar Nelas, a sinalização aponta o caminho para o Hotel da Urgeiriça em todos os cruzamentos. Alguns quilómetros mais à frente, na estrada para Coimbra, surge o desvio. Logo à direita, lá está a entrada principal do hotel, que mal se vislumbra ao fundo, atrás de uma cortina de vegetação.Mas não é isso o que mais chama a atenção. Um gigantesco aterro, situado quase em frente da mata do hotel, impõe a sua presença imponente e algo intimidante. São toneladas e toneladas de terra, rodeadas por uma vedação provisória, a sugerir que a obra ainda está em curso.
Quem é da terra sabe que aquela brutal cicatriz no tecido verdejante da zona esconde as escórias da antiga laboração da mina de urânio da Urgeiriça. É a Barragem Velha, finalmente intervencionada (ver texto sobre requalificação ambiental) depois de décadas a acumular materiais radioactivos. Como cartão-de-visita dapovoação dificilmente poderia ser pior, mas quem tem culpa de ter havido ali jazidas de urânio?Não muito longe, do lado de lá da linha férrea da Beira Alta, que corta o acesso às instalações fabris, está o antigo complexo mineiro da Empresa Nacional de Urânio (extinta em 2004), parado desde o princípio dos anos 90.
Como em todas as áreas industri-ais antigas, os edifícios são feios. Mas aqui, o que pesa é o estado deabandono, mal disfarçado pela ocu-pação parcial de alguns imóveis compequenos negócios, oficinas e escritórios.
À distância de algumas centenas de metros ergue-se uma correnteza de apartamentos. E por trás destes há um campo de futebol impraticável, e a seguir o bairro operário, construído para abrigar os malteses, esses trabalhadores de outros tempos que vinham de longe para trabalhar no urânio.Morrer aos 50 anosNum extremo da urbanização, a casa de pessoal dos trabalhadores das minas continua a funcionar. É frequentada pelos residentes do bairro, muitos deles já sem qualquer ligação à história recente das minas. Com um bar, sala de convívio e salão, é o último vestígio vivo de um tempo em que a actividade extractiva pautava a vida quotidiana na Urgeiriça, Canas de Senhorim e outras povoações da região. Quando as minas fecharam, cada um foi à sua vida. Os mais velhos passaram à reforma, os outros encontraram novo emprego ou ficaram mesmo desempregados.
Ao contrário do que seria normal, não se virou uma nova página na existência de todos eles. Algo ficou para trás e tem a mesma natureza de uma bomba-relógio, deflagrando de forma imprevista e causando dor, sofrimento e, por fim, morte.Os testemunhos falam por si. Como o de Bernardo da Cruz, de 64 anos, antigo fiel de armazém durante 27 anos: aos 58 anos foi-lhe diagnosticado um cancro na garganta e hoje só muito dificilmente consegue falar. Ou o de Vítor Morais, de 52 anos, trabalhador no tratamento do minério e depois no sector administrativo, a quem foi descoberto em 2005 (14 anos depois de ter saído da empresa) um cancro na tiróide.António Loureiro, de 55 anos, desenhador até 1993, teve mais sorte ("até ver", ressalva); queixa-se de proble-mas ósseos mas o resto está bem. O mesmo acontece com António Figueiredo, de 60 anos, hoje desempregado, que trabalhou no transporte do minério.Estes homens não contam apenas as suas histórias.
Evocam também a memória dos que tinham idades próximas e já morreram, e ainda aqueles que estão doentes: Ana Paula, mulher de Vítor Morais, ou a "colega Adélia", ambas com problemas na tiróide; José Teixeira, compadre de António Figueiredo, morto aos 50 anos com "os pulmões desfeitos"; José Alvadia, desenhador que morreu com cancro... Os nomes sucedem-se, incluindo engenheiros, secretárias, pessoal administrativo, dos recursos humanos, mais mineiros.
Falta de informaçãoTodos falam das más condições de trabalho, da falta de informação quan-to aos perigos do minério, dos equipamentos de protecção sumários e dos exames médicos elementares, realidades do passado que é hoje impossível emendar. Mas não seria ainda possível fazer algo por eles no presente?"Sabe-se que há maior incidência de cancros do pulmão nos mineiros, sendo de esperar o aparecimento de mais patologias nessa população", diz Eugénio Cordeiro, um dos coordenadores do projecto MiNurar (estudo dos efeitos das minas de urânio na saúde da população) e assessor na Administração Regional de Saúde do Centro. A monitorização deve ser assegurada pela medicina ocupacional da empresa, acrescenta. "Mas como nes-te caso ela já não existe, deveria ser o Estado a assumir tal função.
" Este especialista em epidemiologia é de opinião que os exames e rastreios a efectuar não "são muito especiais, nem sequer em termos de frequência", admitindo que não representariam um encargo suplementar exagerado. Em Dezembro de 2006, o deputado social-democrata António Almeida Henriques perguntou ao Ministério da Saúde que medidas tinham sido tomadas para "se iniciarem os exames médicos aos 300 ex-trabalhadores da ENU". Ainda não teve resposta e a assessora de imprensa do ministro Correia de Campos disse ao PÚBLICO que a Direcção-Geral de Saúde estava à espera da divulgação dos resultados finais do projecto MiNurar para avançar com exames aos antigos tra-balhadores.
http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain%2Easp%3Fid%3D11327752

maio 11, 2007

...na boca dos poetas.

Onde a mulher teve um amor feliz é a sua terra.

Lembro-me, no norte de Angola, de ver uma jibóia e uma cabra mortas. A metade da frente da cabra estava dentro da jibóia, a metade de trás, a garupa e as patas, de fora, e a jibóia falecera engasgada. Lembro-me de um rapaz de tripas ao léu, atacado por uma pacaça, de outro a quem um crocodilo roubou o tornozelo e eu às voltas com o coto a sangrar. Lembro-me de centenas de mandris num morro. Lembro-me, no Leste, de uma manadazita de elefantes trotando sob a avioneta. Lembro-me sobretudo dos cheiros e da permanente exaltação dos sentidos. Da sombra da avioneta perseguindo os elefantes. Da estranha, inexplicável, genuína alegria que acompanha a crueldade e a violência. Acho que, depois disso, me tornei comedido, pacífico. O corpo, que tanto maltrato, lá continua para diante e eu com ele. Estou a escrever um romance, comecei-o no dia 15 de junho, e escrevo às cegas, caminhando numa espécie de nevoeiro: há-de chegar o momento em que encontrarei, de súbito, uma clareira iluminada e então compreenderei tudo. Voltei, anteontem, da serra da Estrela, ou seja de a poucos quilómetros da serra da Estrela, onde fui encher os olhos com a minha infância que segue naquelas árvores, naquelas pedras, no pinhal que já não existe e, no entanto, para mim permanece. Casas escuras por ali acima. E um bloco de saudade no lugar do estômago. Às vezes percebo mal no que me tornei. Se a minha avó aparecesse contar-me-ia histórias de comboios? A do cão, chamado Fido, posto na rua do inverno? Onde pára o sapateiro de Benfica que me prevenia

- O mundo é grande, menino

ou o doido, que vendia passarinhos, a esbracejar nas esquinas? As mulheres da adolescência, vestidas de roupa interior numa saleta de espelhos? Tornei-me em quê? Os rebanhos atravessavam a estrada, num suspiro. Andavam, trotavam uns metros, andavam de novo. Tenho vivido, até hoje, num assombro perpétuo. E tudo continua a empurrar-me para a vida.

Falo pouco. Quem me conhece sabe que falo pouco, escuto pouco, levo o tempo a pensar noutra coisa. Não em livros: os livros só existem quando os estou a escrever, saio e entro neles num desligar de fantasma. Pensar noutra coisa. Que palavra, pensar. Pensar é apenas ouvir com atenção. Oiço esta crónica: os seus movimentos. As frases que chegam como ondas. Vêm, ficam um bocadinho no papel, recuam, desaparecem. Há momentos em que é difícil apanhá-las. Quantos amigos tenho? Dois? Três? Não alcanço mais. Os olhos da jibóia redondos, abertos.

Hoje é sexta-feira, fim de agosto. Agrada-me este mês. Na Beira Alta chovia. Os hóspedes do hotel, de chinelos e calções, desocupados. Aceito a estupidez, a maldade, a mentira, custa-me mas aceito, não aceito as crianças que correm entre as mesas. Mães complacentes, pais de sandálias de filme bíblico. Não me concebo mulher, que mais não fosse pêlos pés, tão feios, dos homens, aqueles dedos todos a mexerem-se no fundo da cama. As conversas. Os olhinhos. As opiniões. Os dentes que lhes sobejam nos sorrisos. O gosto pêlos jornais. Quando acabar esta crónica volto ao romance. É-me impossível falar dele porque se faz sozinho, andei anos a treinar a mão para escrever sem mim. Eu em bicos de pés e a mão lá em cima, arrebanhando tudo o que apanha, pelo simples tacto, numa prateleira alta. O rapaz, atacado pela pacaça, nem uma careta, um som. A expressão dele opaca, impassível, nenhuma contracção dos músculos, nada que me permitisse adivinhar-lhe a dor. Depois do tratamento (tratamento!) os parentes levaram-no, de padiola, para uma aldeia distante. Jamais dei por tanto silêncio à minha roda como nesse dia. Os morcegos das mangueiras nem um grito. E eu, claro, não ia morrer nunca. O mais difícil é essa breve noite interior a meio da manhã, ganas de partir, de ficar, de furar a palma com as unhas e, logo a seguir, a esperança. Onde a mulher teve um amor feliz é a sua terra natal.

Acho que estou quase no fim, vou despedir-me. Que trabalheira sorrir, apertar mãos. Que trabalheira anoitecer, e que falta de dignidade a velhice e a doença. Óculos. Dificuldades nos ossos. Lentas misérias.

Quase no fim, disse eu. Subir para o quarto, sentar-me à mesa, fechar os olhos antes de começar. A serra da Estrela inteira à minha frente, luzes de Seia, de Gouveia, de outras terras. Da varanda dos meus avós o alumínio dos grilos raspando, raspando. Continuarão depois de mim, continuarão para sempre, eternos como as pedras.

Vi um cão cego, perplexo numa encruzilhada de caminhos, na Urgeiriça. Principiou a tremer ao sentir-me chegar,trazia um pedaço de corda no pescoço. Ficou no local onde, antigamente, as minas. Quem se rala com um cão? Quem se rala com uma cabra defunta ou um coto a sangrar? Glicínias, glicínias. Não quero o cheiro das glicínias, não quero as suas flores. Quero uma paz imensa. Agora.


António Lobo Antunes

A Urgeiriça...na "Rádio Renascença"

Correia de Campos intervém no caso das minas de urânio

O ministro da Saúde pede urgência na apresentação do plano de saúde para minorar os efeitos nocivos da contaminação ambiental em Canas de Senhorim.
A Renascença apurou que Correia de Campos assinou, hoje mesmo, um despacho a solicitar à Direcção-Geral da Saúde que, através da ARS Centro, apresente um programa de intervenção em saúde, em preparação desde que foi conhecido o relatório científico sobre contaminação com urânio, em 2005. O despacho já foi enviado à Direcção-Geral no mesmo dia em que foi conhecida a morte de mais um ex-trabalhador da antiga Empresa Nacional de Urânio. Esta é uma decisão que peca por tardia, diz o porta-voz dos trabalhadores. António Minhoto lembra que já morreram mais de três dezenas de pessoas. Recorde-se que um estudo do Instituto Ricardo Jorge aponta para a existência de fontes de radiação elevadas nas zonas das antigas minas da Urgeiriça.
RR

A Urgeiriça...no "Diário Regional de Viseu".

Quinta-feira, 10 de Maio 2007
Almeida Henriques leva ao Parlamento
situação dos ex-trabalhadores da ENU

A situação dos ex-trabalhadores da ENU (Empresa Nacional de Urânio) de Canas de Senhorim chegou ontem ao Parlamento pela mão do deputado viseense, o social-democrata Almeida Henriques.Há cinco anos que os antigos trabalhadores exigem a realização de exames médicos periódicos, a obtenção de benefícios na idade da reforma e o pagamento de indemnizações às famílias dos colegas mortos, alegando que a constante exposição à radioactividade lhes afectou a saúde. Ameaçam retomar uma acção judicial contra o Estado se não forem recebidos pelo Governo para "esclarecer definitivamente" a decisão que pretende tomar em relação às suas reivindicações.Almeida Henriques, em requerimento que ontem apresentou na Assembleia da República, questiona os ministérios da Economia e da Saúde sobre as medidas que foram tomadas, no sentido de se iniciarem os exames médicos aos ex-trabalhadores ainda vivos, cerca de 300, e sobre a publicação de um estudo epidemiológico encomendado ao Instituto Ricardo Jorge cujo objectivo foi o de estudar as minas de urânio e os seus efeitos na saúde.Para o deputado viseense, é de "elementar justiça que estas duas situações se resolvam" para que existam dados que permitam avaliar os outros pontos da reivindicação, ou seja vincular todos os ex-trabalhadores para efeitos de reforma e a questão da indemnização em caso de morte.

http://www.diarioregional.pt/

maio 10, 2007

O Urânio...Parte I

Guerra Nuclear Actual - Opinião de Dieter Dellinger




Um aderente do CPPC perguntou-me há dias qual o perigo de ser travada de uma guerra nuclear.
Respondi-lhe que desde 1990, as Forças Armadas Norte-Americanas têm feito uso de armamento nuclear em todos os conflitos em que entraram, nomeadamente no Kosovo, na primeira guerra do Golfo, na Bósnia, no Afeganistão e agora no Iraque com consequências extremamente funestas para o futuro dos povos envolvidos e até dos militares americanos.
Mas como assim? – Perguntou espantado o meu interlocutor.
Pela via das munições fabricadas com o Urânio 238 que sobrou do enriquecimento em U-235 para o fabrico das grandes armas nucleares. Esse U-238, dito gasto, “depleted” em inglês, é um material extremamente duro, mas permite ser fundido para o fabrico de balas de diversos calibres, granadas e ser utilizado como balastro nos mísseis de cruzeiro. Sendo muito duro, as balas das pequenas peças automáticas de 20 mm podem perfurar a blindagem de um carro de combate por via do atrito de choque que funde o aço e se não o atravessa, pelo menos, aquece de tal maneira a viatura que as suas munições explodem ou arde o combustível que leva. Mas, ao mesmo tempo forma-se uma nuvem de subpartículas microscópicas de òxido de U-238 que se espalham na atmosfera ou nos terrenos e podem ser inaladas por seres humanos ou animais, inquinar os aquíferos e entrar nas plantas cultivadas. Não sendo o U-238 muito radioactivo quando concentrado, pois terá apenas um terço da radioactividade do Urânio natural, torna-se mortal quando transformado num spray de partículas microscópicas insolúveis de óxido que apresentam no seu todo uma enorme superfície de contacto, principalmente se forem inaladas por seres humanos. Na Bósnia, alguns soldados portugueses foram vítimas desse material, tendo, pelo menos, um falecido, sem que os médicos militares tenham querido revelar a origem do mal. Acrescente-se que o U-238 perde metade da sua radioactividade em 4,5 mil milhões de anos, pelo que continua a exercer a sua acção letal até ao fim do Planeta.

Como é sabido, esclareci, o Urânio existe na natureza sob a forma de óxidos de urânio em diversos minerais como a pechblenda, a calcolite ou a autonite, para citar apenas alguns dos minérios uraníferos das minas de Urgeiriça. Nesses óxidos, o Urânio é uma mistura de dois isótopos, sendo geralmente 99,3% de U-238 pouco radioactivo e não cindível, portanto, sem uso nas grandes bombas e 0,7% de U-235 que é cindível e utilizável nos reactores nucleares e, bem assim, nas bombas. Nos processos de enriquecimento, o óxido de Urânio natural é transformado em hexafluoreto de Urânio. Depois, por centrifugação, separam-se os compostos mais pesados com U-238 dos mais leves com U-235. Ficam portanto toneladas de U-238 inaproveitadas, baratas ou gratuitas, que os americanos aproveitaram para endurecerem todos os seus projécteis explosivos e de impacto apenas.
Em Abril de 1991, um mês após a guerra do Bush Pai no Golfo, um relatório secreto da Autoridade Britânica para a Energia Nuclear veio parar a um jornal que revelou a natureza tóxica do pó de U-238 e que foram então deixados no campo de batalha cerca de 40 toneladas do referido elemento, o qual poderia vir a causar nalgumas décadas mais de meio milhão de mortos.
Os EUA dispararam 375 toneladas de munições com pontas de U-238 na Guerra do Golfo, 800 na do Afeganistão e 2.200 toneladas na invasão do Iraque. O facto de os combates terem sido travados em zonas pouco habitadas ou desérticas não elimina o perigo do pó de urânio que ficou para sempre nos referidos locais.
As crianças são extremamente sensíveis ao referido pó que entra na circulação sanguínea e participa no crescimento ósseo com graves consequências cancerígenas. O U-238 é mutagénico por via das radiações alfa e gama que emite, as quais não sendo suficientes para se tornarem imediatamente letais, não deixam de ser extremamente perigosas quando entram nos pulmões e, como tal, no metabolismo humano ou animal.
Por isso, também os filhos de pessoas que tiveram contactos com o pó de Urânio 238 podem nascer com malformações, o que aconteceu a 251 veteranos norte-americanos da Guerra do Golfo.
Os riscos causados pelo pó são tanto de natureza química como radiológica e nos EUA foi divulgado um relatório do Dr। Asaf Durakovic, ex-chefe da Divisão de Ciências Nucleares do Instituto de Radiobiologia das Forças Armadas, que constata o facto de mais de 90 mil veteranos das guerras nucleares americanas estarem a sofrer de uma “desconhecida” doença debilitante crónica originada pelo pó de Urânio 238. O referido médico foi expulso das FAs e fundou o “Uranium Medical Research Centre” que tem alertado a opinião pública americana e mundial para o perigo do uso sistemático das munições de urânio que eleva a guerra dita convencional para um patamar pré-nuclear
http://cppc।blogs.sapo.pt/

maio 09, 2007

A Urgeiriça na blogosfera

Sábado, 5 de Maio de 2007
Urgeiriça- 'PARECEM CADÁVERES AMBULANTES'
Num artigo publicado hoje no jornal Correio da Manha, Luís Oliveira traça um relato simultaneamente triste e realista das consequências ambientais e humanas da exploração mineira na localidade de Urgeiriça.
"Cancro, “palavra maldita”, é o que mais se ouve das pessoas quando interpeladas para falar sobre a realidade que durante décadas dinamizou aquele lugar de Canas de Senhorim, Nelas." relata Luís Oliveira baseando-se nas palavras de António Minhoto, porta-voz dos trabalhadores.
Parecem cadáveres ambulantes é, para o articulista, o retrato que os habitantes fazem de si mesmos.
Numa altura em que tanto se fala em protecção ambiental e defesa dos cidadãos por um lado e na opção pela energia nuclear por outro é importante ler este artigo.
Se quiseres saber um pouco mais sobre este assunto lê este artigo intitulado Radioactividade- Componente histórica inserido na página Web da CiênciaJ


A imagem ao lado refere-se a uma amostra de Torbernite mineral extraído destas minas.Se quiseres saber mais sobre este minério clica na figura.Também podes aceder à página do Museu Geológico e saber mais sobre este mineral aqui.

http://oitavo-c.blogs.sapo.pt/

A Urgeiriça...no "Correio da Manhã"


Trabalhou 21 anos nas minas
Faleceu mais uma vítima do urânio


É mais uma viúva das minas de urânio. Irene Santos, explica os últimos seis meses de vida do marido: “Foi emagrecendo, deixou de ter força e acabou por morrer esquelético. Eu sabia que ia findar assim”, desabafa a mulher do trabalhador da antiga Empresa Nacional de Urânio (ENU), falecido domingo à noite, vítima de cancro nos pulmões.

É mais um homem a engrossar a lista superior a 80 operários que faleceram desde 2002 pelas mesmas razões, depois de terem trabalhado durante décadas na extracção de urânio. Esta morte veio avolumar a revolta dos ex--trabalhadores da ENU, que há cinco anos exigem ao Governo a realização de exames médicos.


António Feliz dos Santos, de 56 anos, trabalhou 21 em várias minas do distrito de Viseu, mas foi no complexo da Cunha Baixa e Urgeiriça que passou mais tempo, em armazéns e no fundo das minas. “Começou a adoecer em Novembro de 2006. Corremos muitos médicos, mas só há três meses é que nos informaram de que tinha um cancro nos pulmões. Os médicos disseram que foi por causa do urânio”, afirma Irene Santos, agora com “muitas dificuldades para continuar a criar” a filha, de 14 anos.


António Santos e mais 400 ex-trabalhadores ficaram desempregados em 1991, quando a ENU encerrou. Residente em Abrunhosa-do-Mato, Mangualde, o ex-mineiro nunca mais encontrou emprego e dedicava-se à pastorícia. À semelhança dos seus antigos companheiros nas minas, lutou junto do Estado por uma reforma antecipada e a realização de exames médicos – devido à constante exposição à radioactividade que lhe custou a vida.


Na última sexta-feira – dois dias antes de falecer – António Santos recebeu uma carta da Segurança Social a pedir que enviasse um comprovativo em como tinha trabalhado para a ENU. “Ele lutou muito, mas acabou por morrer sem receber um cêntimo. Esta carta revoltou-nos ainda mais”, diz a mulher.


António Minhoto, porta-voz dos ex-trabalhadores da ENU, considera que o Governo tem de dar uma “resposta urgente” às exigências dos ex-mineiros, porque se não vão “para a rua” em protesto devido à falta de apoio do Estado. “Não podemos ficar quietos perante estas dezenas de mortes em poucos anos. A nossa prioridade são os exames médicos”, disse.


Em resposta, o ministro da Saúde, Correia de Campos, disse ontem ao CM que “vai criar um despacho para, através da Sub-Região de Saúde do Centro, criar um programa de acompanhamento e seguimento daquela população, incluindo trabalhadores e familiares”.
Luís Oliveira, Viseu

maio 08, 2007

Oferta...do "Municipio"





Postado Por Horácio Peixoto

"post gentilmente oferecido por:

A Urgeiriça...no "PortugalDiário"

Morreu mais um ex-trabalhador do sector do urânio
2007/05/07 13:39

A morte de «mais um» ex-trabalhador da antiga Empresa Nacional de Urânio (ENU), com cancro, levou, esta segunda-feira, os ex-mineiros a renovarem a exigência ao Governo de criar condições para a realização de exames médicos periódicos, noticia a Lusa.
António Minhoto, porta-voz dos ex-trabalhadores da já extinta ENU, que tinha sede na Urgeiriça, Canas de Senhorim, reafirmou ainda que se o Governo, tendo em conta que era uma empresa pública, «não der uma resposta rápida a esta exigência - os exames médicos - os trabalhadores vão avançar com uma queixa contra o Estado».
Da rapidez da resposta do Governo - Ministério da Saúde - depende ainda, explicou Minhoto, concretizar a ameaça já feita de, com os colegas espanhóis da Fábrica de Urânio de Andújar, realizar uma manifestação em Lisboa no dia em que Portugal assumir a presidência da União Europeia.
O porta-voz dos ex-trabalhadores da ENU disse ainda que «não é possível continuar a assistir à continuada morte de colegas com cancro sem fazer nada», lamentando que o Governo não actue de forma «rápida e eficaz» naquela que é a primeira prioridade: «Permitir que as pessoas tenham acesso a exames médicos periódicos».
«Só assim será possível salvar muitas vidas que se extinguem perante o total alheamento do Governo», disse Minhoto, acrescentando que «já não há tempo para mais esperas. O momento é de agir se não houver uma resposta imediata».
Os ex-trabalhadores da ENU, que são, «ainda vivos», cerca de quatro centenas, pretendem uma reunião com responsáveis do Governo de modo a criar mecanismos que possam minimizar a «razia» que o cancro está a fazer nos homens que, durante décadas, extraíram urânio das minas da ENU espalhadas por toda a região, com destaque para os distritos de Viseu e Guarda.


Comentários dos leitores

sinceramente nao percebi a noticia...
Bem atento
2007-05-07 15:27
Então esses trabalhadores, cerca de 400 ainda vivos...nao podem ir ao médico?
Nao podem fazer o rastreio? Se não...então porquê??
O que os proibe de irem ao médico e serem assistidos devidamente e fazeram vários exames, como prevencão?
Estranho...se forem ao médico e se dissereem que suspeitam ou receiam que possam vir a ter ou já possam ter contraido o cancro...não podem??
O médico não os mandam fazer exames...porquê??
Sinceramente nao percebi a noticia...o Governo tem de autorizar??...nao percebi...
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=805815


maio 07, 2007

A Urgeiriça...no "Publico.PT"

Exigem exames periódico

Ex-trabalhadores das minas de urânio renovam exigências após morte de mais um colega 07.05.2007 - 15h16 Lusa.

A morte de mais um ex-trabalhador da antiga Empresa Nacional de Urânio (ENU), vítima de cancro, levou hoje os ex-mineiros a renovarem a exigência ao Governo para a realização de exames médicos periódicos.
A mais recente vítima mortal entre os ex-trabalhadores tinha 56 anos de idade, trabalhou nas minas entre 1966 e 1991 e deixa uma viúva e um filho com 14 anos.

António Minhoto, porta-voz dos ex-trabalhadores da extinta ENU, que tinha sede na Urgeiriça,em Canas de Senhorim, reafirmou, em declarações à Lusa, que se o Governo "não der uma resposta rápida a esta exigência, os trabalhadores vão avançar com uma queixa contra o Estado".

Da rapidez da resposta do Governo depende também a concretização da ameaça já feita de, juntamente com os colegas espanhóis da Fábrica de Urânio de Andújar, realizar uma manifestação em Lisboa no dia em que Portugal assumir a presidência da União Europeia.

O porta-voz dos ex-trabalhadores da ENU disse ainda que "não é possível continuar a assistir à continuada morte de colegas com cancro sem fazer nada", lamentando que o Governo não actue de forma "rápida e eficaz" naquela que é a primeira prioridade: "Permitir que as pessoas tenham acesso a exames médicos periódicos".

"Só assim será possível salvar muitas vidas que se extinguem perante o total alheamento do Governo", disse Minhoto, acrescentando que "já não há tempo para mais esperas. O momento é de agir se não houver uma resposta imediata".

Carla Carvalho Tomás/PÚBLICO

comentários


O meu pai foi vitima desta doença horripilante, de... Por Mª Manuela Gonçalves - Urgeiriça - Lisboa
O meu pai foi vitima desta doença horripilante, destes pós que esta mina emanou mas, principalmente, da desinformação que sempre houve e a qual eu vivi 18 anos da minha vida na Urgeiriça. Não bastando já a doença, tivemos de enfrentar um sistema nacional de saúde ineficaz, lento e mal disposto com estes doentes de cancro, sim, a doença prolongada das noticias de telejornal, que se vêem, porque estão conscientes de tudo que se passa até ao final, miseravelmente abandonados e esquecidos por todos aos quais deram tanto a ganhar durante a maior parte da sua vida. Para aqueles que querem a energia nuclear convido-os a ir á Urgeiriça para ver e sentir o rasto que o uranio deixou.

Para quem ainda acha que a energia nuclear é uma b... Por RegularJack - Portugal
Para quem ainda acha que a energia nuclear é uma boa opção, este é um bom artigo para ler.

É a forma como a generalidade dos portugueses igno... Por Luís Abrantes - Lisboa
É a forma como a generalidade dos portugueses ignoram esta vergonha. Morrem pessoas de forma dolorosa e mesmo assim ninguém quer reconhecer que se deve a doença profissional. O Estado tem que assumir as suas responsabilidades. É para isso que devem servir os impostos e é a única justificação para que se aumentem impostos: A VIDA HUMANA!


maio 06, 2007

A Urgeiriça...no "Correio da Manhã"

Reportagem
2007-05-05 - 00:00:00Reportagem CM Urgeiriça: Minas da morte


Nuno André Ferreira

A vida de toupeira deixou marcas que o tempo abriu. Uns não resistiram e regressaram à terra, cadáveres. Outros, poucos, vão sendo consumidos pela doença. Ficaram mais viúvas do que mineiros para contar a história da Urgeiriça.

Olhando da varanda da sua casa para o poço de Santa Bárbara das minas da Urgeiriça, Bernardo Cruz, de 64 anos, não consegue exprimir uma palavra sem tocar na garganta com a mão direita. Um misto de saudade e revolta assalta-lhe o espírito. Lembra-se, por exemplo, dos “bons tempos” passados nos armazéns e nas galerias da mina, das brincadeiras com os colegas mineiros e do dinheiro que fazia da sua casa uma das mais abastadas do couto mineiro. Bernardo trabalhou, durante 27 anos, nas minas da Urgeiriça. Gostou do que fez mas nessa altura – entre 1965 e 1992 – estava longe de pensar “que um dia ia pagar a factura de tantos anos de exposição às poeiras radioactivas”. O ex-mineiro ‘ganhou’ um cancro na traqueia. Usa uma prótese desgastada, que não substitui por falta dinheiro, e só consegue falar quando toca no aparelho que lhe dá a voz aos solavancos. Apesar de tudo resignou-se à condição de homem “cansado de sofrer”.Bernardo é apenas um das quatro centenas de ex-trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) que, há mais de cinco anos, exigem a realização de exames médicos periódicos, a obtenção de benefícios na idade de reforma e o pagamento de indemnizações às famílias órfãs, justificando tais pretensões com o facto de a constante exposição à radioactividade lhes ter afectado a saúde.E porque sobretudo querem que o Estado os ajude “a cuidar da saúde”, os antigos trabalhadores da ENU prometem “endurecer” a luta. Estão juridicamente preparados para mover uma acção contra o Estado e realizar uma manifestação em Lisboa, quando Portugal tomar posse da presidência da União Europeia. Os ex-mineiros não se conformam com a mudança de estatuto: exploraram riqueza das entranhas da terra “para enriquecer o País” e agora sentem-se “abandonados” pelo Estado, o mesmo que os “acarinhou” durante décadas.Dezasseis anos depois do encerramento das minas, não há nenhuma família que, directa ou indirectamente, não tenha sido atingida por uma doença do foro oncológico. Cancro, “palavra maldita”, é o que mais se ouve das pessoas quando interpeladas para falar sobre a realidade que durante décadas dinamizou aquele lugar de Canas de Senhorim, Nelas. De acordo com António Minhoto, porta-voz dos ex-trabalhadores da ENU, só nos últimos cinco anos morreram 80 pessoas que “tinham em comum o facto de terem trabalhado nas minas”. “Esta terra transformou-se nos últimos anos como um ambulatório onde se tira um bilhete para a morte. Estamos saturados de ver morrer os nossos colegas”, refere José Tavares Moitas, ex-mineiro e durante muitos anos vigilante do complexo mineiro.Se o número de mortes de ex-trabalhadores da ENU alarmou as três centenas de habitantes que ainda dão vida à Urgeiriça, o estudo científico a que foi sujeita a população de Canas de Senhorim realizado pelo Instituto Ricardo Jorge veio aumentar o medo dos ex-mineiros.

ESTUDO CONFIRMA CONTAMINAÇÃO

O estudo científico, segundo António Minhoto, “vem provar a contaminação da população envolvente das minas da Urgeiriça e sua escombreira quando refere a concentração de polónio e chumbo no cabelo das pessoas”. Sendo assim, considera não haver dúvidas de que está mais que provada a causa-efeito para as mortes de ex-trabalhadores da ENU.“Mas ainda há alguém que duvide de que todos nós estamos queimados por dentro?”, interroga-se Alfredo Magalhães, de 74 anos, um dos poucos mineiros de “fundo de mina” que continua vivo. “Todos os outros já morreram. Sou dos mais velhos. Ainda estou vivo mas não deve ser por muito mais tempo porque tenho um cancro na próstata, pó no pulmão esquerdo e sou reumático de primeira categoria”, afirma, apesar de tudo, com humor.Alfredo Magalhães nasceu em Cabeceiras de Basto mas a fome desde muito cedo o encaminhou para o trabalho e para as minas da Urgeiriça, onde trabalhou durante vinte anos, bem lá no fundo –- a cerca de 800 metros de profundidade. “Porque se ganhava um pouco mais” – 26 escudos por mês – este mineiro minhoto optou por pegar no martelo. “Por dia cheguei a abrir 60 a 70 furos de metro e meio. Trabalhávamos que nem escravos. E sabe qual foi a recompensa?”, interroga-se, para responder de pronto: “Nenhuma. A empresa fechou e deixou-nos na miséria, carregados de doenças.”Alfredo recorda-se do dia em que o encarregado baixou ao fundo da mina e anunciou a duplicação do salário. “Foi no 25 de Abril de 1974”, lembra-se “perfeitamente” porque deixou “de comer sardinha” para passar “a degustar frango”.Os tempos duros de mineiro não se esgotaram no fundo da mina. Hoje, Alfredo está a “pagar a factura” de ter tomado muitos banhos de urânio e de ter respirado as poeiras que lhe tolheram os pulmões. “Sou um homem podre, sem forças para nada. Só ainda não embarquei porque tenho muito cuidado com a alimentação”, conclui.Voltando a Bernardo Cruz, (o mineiro que tanto gritou na mina para avisar os colegas das explosões e que agora para falar tem de tocar na velhinha prótese) é considerado como um “exemplo claro” de “esquecimento”.Quando lhe foi diagnosticado o cancro na traqueia ficou desesperado mas foi com “serenidade” que optou pela operação. O seu amigo Casemiro não quis ser operado e acabou por morreu apenas dois meses depois.Mas antes da operação, Bernardo gastou “muito dinheiro” nas consultas em especialistas e não teve apoio. “Nem para pagar as viagens a Coimbra. Fui muitas vezes de táxi”, diz. “E agora querem tirar-lhe a ambulância que o leva para Coimbra. Mandaram-no ir de autocarro”, intromete-se a esposa, Ana Cruz, também doente – tem três nódulos na tiróide.Rara, muito rara é a casa da Urgeiriça onde não tenha batido nenhuma tragédia. A morte invade-lhes a memória e tira-lhes a alegria. Lamenta-se as doenças e chora-se a perda. Emília, Maria, Mariana, Trindade e Ilda têm o comum o facto de serem viúvas de mineiros. Não conseguem segurar as lágrimas quando falam dos maridos, sofrem num silêncio que lhes “consome a alma”. Como elas há centenas de outras que viram partir os companheiros, homens que em menos de um mês saíam das galerias para uma cama de hospital onde, impotentes, apanhavam o vagão da morte.Algumas viúvas como ‘recompensa’ pela morte dos mineiros ganharam um trabalho na empresa que explorava as minas. “Era norma dar trabalho às viúvas para elas poderem sustentar os filhos órfãos de pai”, adianta Alfredo Magalhães.

'PARECEM CADÁVERES AMBULANTES'

As marcas da vida dura estão bem patentes em Sílvio Martins, hoje com 75 anos mas que ficou paraplégico quando tinha 37. Era um “exigente” capataz mas também “amigo” dos mineiros que supervisionava. Em 1965 um desabamento de pedras no 14.º piso de uma galeria deixou-o paraplégico. “O Estado nunca me ajudou. Eu estou assim mas há aí pessoas que são uns cadáveres ambulantes a quem ninguém deita a mão”, conta Sílvio Martins do interior da mota que adaptou à sua deficiência. Para Adelino Caria, serralheiro e soldador, notam-se bem as diferenças de fisionomia entre um homem que trabalhou nas minas e o que não o fez. “Nós temos um aspecto mais doentio, carregado e desgastado”, afirma.Apesar de tudo, estes mineiro sobreviventes garantem ser “felizes” por o terem sido, mas lamentam que tenham de pagar “bem caro” o perigo.“De galeria em galeria até à morte”, era e é o medo deles.

CHUVADAS NO INVERNO AMEAÇARAM MONDEGO

A Empresa de Desenvolvimento Mineiro procede a trabalhos de recuperação ambiental na Barragem Velha da Urgeiriça – onde estão depositados quatro milhões de toneladas de resíduos –, uma intervenção orçada em seis milhões de euros. Estes trabalhos estiveram parados mas foram retomados no Inverno passado depois de a associação Ambiente das Zonas Uraníferas ter alertado para o facto de as fortes chuvadas transformarem as areias radioactivas da Barragem Velha da Urgeiriça em lamas que estavam a correr para o rio Mondego. “A situação era muito grave. Aquelas lamas podiam contaminar as linhas de água e escorrer para o rio Mondego”, diz António Minhoto. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro enviou técnicos para o local que analisaram a situação e chegaram à conclusão de que “muito dificilmente” as lamas radioactivas atingiriam o Mondego.

AS VIÚVAS

"MORREU DE CANCRO NO PULMÃO" (Helena, 63 anos, enviuvou do mineiro A. Cunha)“O meu marido morreu de cancro. Foi doloroso. Para sobreviver tive de me agarrar ao trabalho. Recebo 200 euros de pensão, mas gasto 100 em medicamentos porque só respiro por um pulmão.”

"TRABALHOU NA ZONA PERIGOSA" (Emília Costa, 59 anos, perdeu o marido há quatro)“Aconteceu aquilo que temíamos. O meu marido trabalhava na zona mais perigosa - empacotava o urânio. Morreu há quatro anos com um cancro na traqueia. Tive uma trombose duas semanas depois.”

"DEU A VIDA PELO TRABALHO" (Trindade Fernandes, 63 anos, viúva de mineiro)“O meu marido era capataz. Deu a vida pelo trabalho. Durante muitas semanas não viu a luz do dia - saía para o trabalho de madrugada e só voltava de noite. Morreu muito magro e vencido pelo urânio.”

"MORREU DEPOIS DA 4ª OPERAÇÃO" (Ilda Fernandes passou fome depois de enviuvar)“O meu homem trabalhou no fundo da mina durante 28 anos, sempre muito duro. Depois ficou muito doente e acabou por morrer depois da quarta operação. Passei fome para conseguir pagar a casa.”


"ESTAMOS FARTOS DE TANTO DESPREZO" (António Minhoto, porta-voz dos mineiros, não cala a revolta)


CM – Por que é que os ex-trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio se sentem abandonados pelo Estado?

António Minhoto – Porque há muitos anos que reclamamos mais atenção para os nossos problemas, que são graves, e ninguém nos liga nenhuma. Estamos fartos de tanto desprezo

– Há algum caso dramático mais urgente?

– Muitos. Basta falar com ex-mineiros e mulheres que enviuvaram para ver a situação desgraçada em que estão. É a altura de os responsáveis deste País olharem para nós. O esquecimento já provocou, nos últimos cinco anos, a morte a 80 ex-trabalhadores.

– Vão endurecer a luta. Até onde podem ir?

– Chegou a altura de dizer basta, queremos que o Governo se digne dialogar connosco. Caso não nos receba a curto prazo vamos mover uma acção em tribunal contra o Estado e, se nada for feito até Junho, organizaremos uma manifestação em Lisboa no dia da tomada de posse da Presidência Europeia.

– A realização de exames médicos é a vossa principal reivindicação. Porque é que ainda não foram feitos?

– Pergunta bem. Nós também não entendemos, porque com a saúde não se brinca. É a vida dos ex-trabalhadores que está em causa. Sempre que tentamos falar com o Governo empurram-nos de ministério em ministério – da Saúde, Economia e Trabalho – e ninguém se entende.

– São caros?

– Trata-se de exames muito complexos e caros mas isso não pode ser um entrave porque estes homens já deram muito dinheiro a ganhar ao Estado.

SAIBA MAIS

150 toneladas de urânio permanecem armazenadas no complexo das minas da Urgeiriça. O urânio está a ser vendido para a Alemanha, voltou a ser um minério com procura.79 milhões de euros é a verba necessária para a resolução dos problemas ambientais associados às explorações uraníferas abandonadas na Região Centro.

CAUSAS

As doenças que afectam os ex-trabalhadores da ENU e da população que reside perto das minas são provocadas pelo contacto com o urânio e com as poeiras.

CURA

As doenças do foro oncológico – as que mais afectam os ex-mineiros – sempre que detectadas a tempo têm cura. Os clínicos recomendam uma forte vigilância.

CONSELHOS

Para as pessoas que residem em zonas uraníferas aconselha-se a ventilação da casa (abrindo janelas) e a medição constante do nível de radiação.

Luís Oliveira