Trabalhou 21 anos nas minas
Faleceu mais uma vítima do urânio
É mais uma viúva das minas de urânio. Irene Santos, explica os últimos seis meses de vida do marido: “Foi emagrecendo, deixou de ter força e acabou por morrer esquelético. Eu sabia que ia findar assim”, desabafa a mulher do trabalhador da antiga Empresa Nacional de Urânio (ENU), falecido domingo à noite, vítima de cancro nos pulmões.
É mais um homem a engrossar a lista superior a 80 operários que faleceram desde 2002 pelas mesmas razões, depois de terem trabalhado durante décadas na extracção de urânio. Esta morte veio avolumar a revolta dos ex--trabalhadores da ENU, que há cinco anos exigem ao Governo a realização de exames médicos.
António Feliz dos Santos, de 56 anos, trabalhou 21 em várias minas do distrito de Viseu, mas foi no complexo da Cunha Baixa e Urgeiriça que passou mais tempo, em armazéns e no fundo das minas. “Começou a adoecer em Novembro de 2006. Corremos muitos médicos, mas só há três meses é que nos informaram de que tinha um cancro nos pulmões. Os médicos disseram que foi por causa do urânio”, afirma Irene Santos, agora com “muitas dificuldades para continuar a criar” a filha, de 14 anos.
António Santos e mais 400 ex-trabalhadores ficaram desempregados em 1991, quando a ENU encerrou. Residente em Abrunhosa-do-Mato, Mangualde, o ex-mineiro nunca mais encontrou emprego e dedicava-se à pastorícia. À semelhança dos seus antigos companheiros nas minas, lutou junto do Estado por uma reforma antecipada e a realização de exames médicos – devido à constante exposição à radioactividade que lhe custou a vida.
Na última sexta-feira – dois dias antes de falecer – António Santos recebeu uma carta da Segurança Social a pedir que enviasse um comprovativo em como tinha trabalhado para a ENU. “Ele lutou muito, mas acabou por morrer sem receber um cêntimo. Esta carta revoltou-nos ainda mais”, diz a mulher.
António Minhoto, porta-voz dos ex-trabalhadores da ENU, considera que o Governo tem de dar uma “resposta urgente” às exigências dos ex-mineiros, porque se não vão “para a rua” em protesto devido à falta de apoio do Estado. “Não podemos ficar quietos perante estas dezenas de mortes em poucos anos. A nossa prioridade são os exames médicos”, disse.
Em resposta, o ministro da Saúde, Correia de Campos, disse ontem ao CM que “vai criar um despacho para, através da Sub-Região de Saúde do Centro, criar um programa de acompanhamento e seguimento daquela população, incluindo trabalhadores e familiares”.
Luís Oliveira, Viseu
Luís Oliveira, Viseu
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