Antigos trabalhadores do urânio ameaçam retomar acção judicial contra Estado
Antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) decidiram retomar uma acção judicial contra o Estado se não forem recebidos pelo Governo para "esclarecer definitivamente" a decisão que pretende tomar em relação às suas reivindicações.
Reunidos hoje em plenário, cerca de 50 antigos trabalhadores (de 350 a 400 que ainda existem) da ENU, decidiram ainda que poderão avançar com acções conjuntas com colegas espanhóis da Fábrica de Urânio de Andújar, nomeadamente realizando uma concentração no dia da tomada de posse da Presidência Europeia, em Junho.
Há cinco anos que os antigos trabalhadores da ENU - que estava sediada na Urgeiriça, Canas de Senhorim - exigem a realização de exames médicos periódicos, a obtenção de benefícios na idade da reforma e o pagamento de indemnizações às famílias dos colegas mortos, alegando que a constante exposição à radioactividade lhes afectou a saúde.
Em Fevereiro, os trabalhadores suspenderam a acção judicial em curso, porque o grupo parlamentar do PS demonstrou abertura para resolver o problema.
No entanto, hoje decidiram, por unanimidade, que a retomarão se o Governo não os receber "dentro de um prazo a considerar", atendendo a que, nos últimos meses, "pouco se avançou no sentido da resolução das reivindicações" e também aos dados que consideram preocupantes do último relatório do estudo epidemiológico Minurar.
António Minhoto, porta-voz dos trabalhadores, disse que o último relatório do Minurar - desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge em colaboração com outras entidades e que teve como objectivo estudar as minas de urânio e os seus efeitos na saúde - "é esclarecedor".
"Vem provar a contaminação das populações envolventes às minas da Urgeiriça e sua escombreira, quando refere a concentração de polónio e chumbo (descendentes do urânio) no cabelo das pessoas", frisou no plenário. Citou uma parte do relatório onde é referido que "as áreas ocupadas pelas escombreiras do tratamento químico do minério e de outras actividades mineiras na freguesia de Canas de Senhorim contêm materiais francamente radioactivos", constituindo "uma fonte de radiação que pode originar doses de radiação extrema significativa para quem frequenta os locais" e, também, "uma fonte de radão e de poeiras radioactivas que se dispersam na atmosfera".
Desta forma, considera não haver dúvidas de que está provada a "causa-efeito" para as mortes de antigos trabalhadores da ENU, que diz terem sido "mais de 80 nos últimos anos".
"Quando as populações foram contaminadas pelas escombreiras, tratamento químico e poeiras, então e nós, que não estávamos a 500 metros ou a um ou dois quilómetros?", questionou.
Neste âmbito, António Minhoto defendeu que deve ser já atendida a reivindicação da realização dos exames médicos periódicos, ainda que as restantes fiquem para mais tarde.
"As questões sociais não são urgentes, podem ir-se falando, mas os exames médicos são, porque salvam pessoas", frisou.
Alertou que, a "a qualquer momento" pode acabar o prazo dado ao Governo, porque "a paciência esgota se existir mais um caso de morte".
"O que espera o Governo? Tem aqui o argumento número um, se é que lhe faltava, para concluir o processo que iniciámos", sublinhou, acrescentando que os antigos trabalhadores não querem "simpatia e boas falinhas, mas coisas concretas".
Agência LUSA2007-05-01 19:20:02
maio 01, 2007
A Urgeiriça...na RTP
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