O portal de Canas de Senhorim

novembro 29, 2007

A nossa Padroeira III

Santa Bárbara, virgem e mártir
Celebrada em 04 de Dezembro


A Grande Santa e Mártir Bárbara viveu e sofreu durante o reinado do imperador Maximiano (305-311). Seu pai, um pagão de nome Dióscoro era um homem rico e ilustre da cidade fenícia de Heliópolis; como ele ficou viúvo muito cedo, voltou toda a sua atenção em devoção a sua filha única. Bárbara tinha uma beleza tão extraordinária que seu pai decidiu criá-la afastada dos olhos de estranhos. Para isso ele construiu uma torre, na qual ela vivia, junto de seus tutores pagãos.
Do alto da torre, ela podia vislumbrar a imensidão da criação de Deus: durante o dia, ela via colinas cobertas de florestas, rios que cortavam a terra e campinas cobertas por flores de todas as cores do arco-íris; e, a noite, o impressionante espetáculo da harmonia e majestade dos céus estrelados. Logo a jovem donzela passou a se questionar sobre o Criador de um mundo tão esplêndido e harmonioso. Aos poucos elas foi se convencendo que os ídolos pagão eram criação das mãos humanas, e embora seu pai e tutores a ensinavam a adorá-los, os ídolos não se mostravam sábios ou divinos o suficiente para terem criado o mundo. O desejo de Bárbara de conhecer o Deus Verdadeiro consumia sua alma de tal maneira que ela decidiu devotar toda a as vida a isto, vivendo em castidade.
Mas a fama de sua beleza espalhou-se pela cidade, e surgiram muitos pretendentes à sua mão. E apesar das súplicas de seu pai, ela recusou, dizendo-lhe que sua persistência poderia separá-los para sempre, tendo um final trágico. Dióscoro, então, decidiu que o temperamento de sua filha havia sido afetado por sua vida reclusa – ele, então, permitiu que ela deixasse a torre, concedendo-lhe a liberdade de escolha de seus amigos e conhecidos. Foi assim que a donzela conheceu na cidade jovens cristãos, que lhe revelaram sobre os ensinamentos de Deus, a vida de Nosso Senhor, a Trindade e a Sabedoria Divina. Pela Providência Divina, após um certo tempo, um padre de Alexandria, disfarçado como mercador, chegou a Heliópolis, e posteriormente veio a batizar Bárbara.
Enquanto isso, um luxuoso quarto de banho estava sendo construído na casa de Dióscoro. Segundo suas ordens, os operários deveriam construir duas janelas na parede sul; mas Bárbara, aproveitando-se da ausência de seu pai, pediu-lhes para que fosse feita uma terceira janela, representando a Trindade. Sobre a entrada do quarto de banho Bárbara esculpiu em pedra uma cruz – segundo o hagiógrafo Simeão Metafrastes, certo tempo após a fonte que originalmente abastecia o quarto de banho ter secado, ela voltou a jorrar água com poderes curativos.
Quando Dióscoro retornou, expressando insatisfação com as mudanças em sua obra, sua filha lhe contou sobre seu conhecimento do Deus Triúno, sobre a salvação pelo Filho de Deus e da futilidade de adorar falsos ídolos.
Dióscoro imediatamente foi tomado pela fúria, tomando uma espada para matá-la; a jovem fugiu de seu pai, que partiu em sua perseguição; quando Santa Bárbara chegou a uma colina, nele se abriu uma caverna para escondê-la em seu interior. Após uma busca longa e sem resultados por sua filha, Dióscoro viu dois pastores em uma colina. Um deles lhe mostrou a caverna onde a Santa havia se escondido – quando a encontrou, Dióscoro lhe deu uma surra terrível, para depois mantê-la em cativeiro, em um jejum forçado. Vendo que não conseguia vencer a fé de Santa Bárbara, ele a levou para Marciano, o governador da cidade. Juntos, eles voltaram a surrá-la e chicoteá-la, salgando suas feridas. À noite, a Santa Donzela rezou com fé ao Senhor, e Ele lhe apareceu em pessoa, curando seus ferimentos. Ela, então, sofreu tormentos mais cruéis ainda.
Entre a multidão que se encontrava próximo ao local da tortura, havia uma cristã moradora de Heliópolis, de nome Juliana, e seu coração havia se enchido de compaixão pelo martírio voluntário da bela e ilustre donzela.
Também desejando se sacrificar por Cristo e sua fé, e começou a denunciar os torturadores em voz alta, sendo presa logo em seguida. Ambas a Santas Mártires foram torturadas por muito tempo; após serem flageladas, foram levadas pelas ruas da cidade, em meio à zombaria e escárnio da multidão.
Após a humilhação, as fiéis seguidoras de Cristo, Santas Bárbara e Juliana foram decapitadas. O próprio Dióscoro executou Santa Bárbara. A fúria de Deus não tardou a punir seus torturadores e executores: logo em seguida, Dióscoro e Marciano foram fulminados por raios e relâmpago.
No século VI, as relíquias da Santa Mártir Bárbara foram transladados para Constantinopla. No século XII, a filha do Imperador Bizantino Aleixo Comenes, a princesa Bárbara, após contrair matrimônio com o príncipe russo Miguel Izyaslavich as transladou para Kiev, capital da atual Ucrânia. Hoje suas santas relíquias descansam na Catedral de São Valdomiro em Kiev.
radução e adaptação: Ricardo Williams G. Santos

novembro 20, 2007

A "Urgeiriça" VS GDR Canas de Senhorim

nos...Infantis
[Castela; Filipe; André e Daniel]
####
nos...Iniciados
[Artur Lemos e André Neto]

novembro 16, 2007

À conversa com...António Minhoto


“A nossa luta não é contra o PS. É por direitos iguais”

Os objectivos da vigília dos ex-trabalhadores da ENU foram concretizados?
Foram. Queríamos levar a luta para a rua, divulgá-la junto das populações…

A luta já estava na rua.
Estava na rua, mas não havia o contacto com as populações. Organizámos uma marcha entre a Urgeiriça, Nelas e Viseu, comunicando com a população, dando a conhecer as nossas razões. Durante as 24 horas, 12 delas em Viseu, passaram pela vigília vários quadrantes políticos, sindicais e populares manifestando concordância e apoio.

Curiosamente não tiveram tanta solidariedade da parte do partido que sustenta o governo. O líder da Federação Distrital de Viseu do PS, José Junqueiro, recusou mesmo receber-vos.
Pelo contrário. Nós temos vindo a ter cada vez mais apoio do PS. A concelhia de Nelas está solidária com este processo e a de Viseu, ao contrário do que pretendíamos, porque tencionávamos deixar ficar na caixa do correio o nosso manifesto, recebeu-nos e mostrou-nos solidariedade e estímulo. Passámos até para outra fase, em termos de apoio no PS.

A atitude de José Junqueiro surge em contra-ciclo com a do seu próprio partido?
Isso é um fait-divers interno do PS. Entendemos que não nos devemos meter nisso. O PS tem que olhar para o deputado Miguel Ginestal. Devem ser solidários com ele porque foi um homem com coração, sensível, que esteve no plenário, viu os problemas e afirmou que havia uma dívida do Estado para com os trabalhadores.

Porque diz que é um fait-divers?
Porque não corresponde à solidariedade e às intenções do PS. Em 2005, o PS apresentou um requerimento, na Assembleia da República, subscrito por todos os deputados de Viseu, dizendo para darem o melhor andamento possível às nossas reivindicações.

O PS deve olhar para o que disse o deputado Miguel Ginestal e não para o que disse agora o líder da federação distrital?
Só dizemos que deve ser solidário e que não deixe queimar em lume brando um ânimo que é tão sensível e justo. Por isso, é que ele (Miguel Ginestal) é justo, porque esteve, no dia a dia, com os trabalhadores. O (José) Junqueiro nunca apareceu. Mas eu queria fugir dessa questão, porque a nossa luta não é contra o PS, que tem sido um aliado. O próprio Junqueiro, na nossa presença, marcou uma audiência com o Ministério do Trabalho para discutir o problema. Portanto, não percebemos essa afirmação.

Refere-se ao facto de José Junqueiro ter tido que o senhor “não é uma pessoa politicamente séria” ou ter-se referido a si dizendo que “pretende tirar outras regalias à custa deste processo”?
Essa afirmação foi um acto que não foi pensado. Não a vamos levar a sério. Estar a sério nisto tem a ver com os trabalhadores, que são quem tem que mostrar se aceita ou não a minha liderança. Ela foi-me imposta e vem do último ano em que trabalhei na ENU (1989). Fui o primeiro a ser despedido e os trabalhadores, perante o facto de não haver forças para me manter na empresa, disseram que eu tinha que aceitar a indemnização. A resposta que dei foi que a indemnização seria posta ao serviço desta luta.

Estamos a falar de quanto?
De valores que rondavam os três mil contos. Numa homenagem que me fizeram, com cerca de 200 trabalhadores, ofereceram-me uma lápide a dizer: “obrigada pelos serviços”. Isso nunca se pode esquecer, nem se pode anular. Isto mexe muito comigo e eu nunca poderia abandonar os meus camaradas. Por isso, estive em todos os processos. Incentivei-os, dei orientações, movimentei opiniões dos partidos e eles sabem disso. Os trabalhadores têm beneficiado dessa luta e estão unidos. Esta sumula de reivindicações une toda a gente. É pelos exames, é por aqueles que faleceram e é por aqueles que não têm direito à reforma antecipada. Nunca foi uma luta individualista. Fomos sempre mobilizando e incentivando aqueles que lutavam. Foi pela requalificação ambiental, foi apoiando os trabalhadores que queriam rescindir o contrato mas com os seus direitos assegurados, lancei a actividade de uma associação ambientalista – a AZU – que teve um papel importante na requalificação ambiental. A questão da honestidade política está traduzida nesta luta e no apoio que ela tem.

José Junqueiro revela ignorância?
Não sei… Talvez a pressão política, a vinda do líder (José Sócrates) ao outro dia. Talvez a necessidade de mostrar trabalho o levasse a pronunciar esta afirmação descabida, despropositada e que não corresponde ao apoio que os trabalhadores depositam em mim. A prova evidente foi esta marcha, que levou 100 ex-trabalhadores até Viseu, em situações muito difíceis, ao fim de uma semana de trabalho. Reunir cerca de 100 trabalhadores que estão espalhados pelo país nesta marcha, corresponde a um sentimento de luta, de revolta e de vontade de vencer, como corresponde a uma liderança de pessoas que têm trabalhado e dado o seu melhor.

Porque é que acabou por protagonizar essa luta e pôs a sua indemnização ao serviço dos ex-trabalhadores?
Por tudo aquilo que os mineiros sofreram na pele. Por um sentimento que vem do facto de ver colegas meus, entre os 45 anos, a partir; ver viúvas destroçadas; ver injustiças feitas através do método de tentar dividir para reinar. Uma empresa do Estado tem que ser clara, igual para todos, nos direitos. Uns não podem ser de primeira e outros de segunda. Não podemos aceitar isto quando todos nós contribuímos para a riqueza do país.

“Na Urgeiriça, mora a palavra saudade...”
No blogue “Urgeiriça em peso”, há um texto, com o título “Homenagem ao mineiro”, que contém a frase: “Na Urgeiriça, mora a palavra saudade…”. Saudade de quê?
(Pausa) Olhe. É a saudade dos nossos (pausa) convívios, da nossa família, das dificuldades que passámos, porque essa forma de estar da família mineira era um exemplo, porque com o sacrifício que passavam no dia a dia tinham que ser unidos para tentar levar o seu trabalho avante. Era um trabalho de equipa e foi nessa base que os trabalhadores sempre se juntaram. Esta saudade é no sentido do que vivemos, do tempo que já lá vai, mas que marcou e está marcado nos ex-trabalhadores.

Texto e foto deIsabel Costa Bordalo [Jornal do Centro]

Ex-mineiros querem pagamento da ‘dívida’

Uma vigília, junto ao edifício do Governo Civil, em Viseu, dos ex-trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Urânio, foi o culminar de nova manifestação, exigindo ao Governo que acabe de pagar a "dívida" pelos vários anos em que estiveram expostos à radioactividade.

novembro 13, 2007

Salvem a Casa do Pessoal – Minas da Urgeiriça

Salvem a Casa do Pessoal – Minas da Urgeiriça

Fundada em 3 de Dezembro de 1951, a Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça tinha como objectivo essencial o desenvolvimento físico e intelectual dos seus associados, e ainda hoje, em conformidade e afinidade a este objectivo, procura visar a prossecução de interesses colectivos e comuns dos sócios, das famílias e amigos, de reformados, de trabalhadores e ex – trabalhadores das Minas da Urgeiriça.
Ao longo destes anos deu um forte contributo ao nível social, cultural, desportivo e recreativo à sociedade onde está inserida, criando, promovendo, organizando e participando em diversos projectos e actividades tais como:

- Desporto: grandes prémios nacionais de marcha atlética, campeonatos regionais e nacionais de futebol, andebol, basquetebol, ténis de mesa, pesca desportiva, ginástica rítmica, etc,
- Social: cursos básicos de ensino, cursos de inglês, colónias de férias, jardim escola, fundo de assistência social para doença, parque infantil, cantina, etc;
- Cultural/ Recreativo: Biblioteca e salas de leitura, bar, salas de jogos, sala de espectáculos/ colóquios e exposições; cinema - projecção de filmes semanais em película 35 mm ; teatro / música teatro revista, récitas, rancho infantil , orfeão, escola de música, agrupamento musica, etc;

Actualmente a Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça está em risco de encerrar ou preferível, está em risco de lhe retirarem abruptamente a sede que por unanimidade e analogia óbvia se chama edifício Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça.

Devido à ligação ainda existente entre a Casa do Pessoal e a EDM – Empresa Desenvolvimento Mineiro (que por isso não possui personalidade jurídica própria) não é possível elaborar novos, nem mesmo dar continuidade a estes projectos e actividades, isto porque a EDM não aceita nem propõe soluções justas e fidedignas que permitam à Casa do Pessoal funcionar com autonomia, querendo mesmo retirar o edifício àqueles que com muito trabalho e suor o construíram e o mantiveram vivo.

Esta casa há 56 anos que pertence a toda a comunidade, aos sócios, às famílias e amigos, dos reformados, dos trabalhadores e ex- trabalhadores das Minas da Urgeiriça.

Agradecemos àqueles que já demonstraram o apoio e se apresentaram solidários para com esta justa causa, tais como as associações vizinhas, os ex trabalhadores, os demais anónimos, o poder local constituído pelo Município de Nelas e pela Junta de Freguesia de Canas de Senhorim.
Apelamos ao bom senso, à solidariedade e à ajuda daqueles que se identificam de alguma forma com esta Casa, que não a deixem morrer.
Obrigado.

Nota: Também publicado no MunicípioCannasSenhorym
Nota 2 : Gentilmente enviado via email, por um morador da Urgeiriça a quem agradeço.


novembro 11, 2007

O pagamento da dívida


Uma dívida antiga, depois de muitas promessas e reuniões. Os trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio iniciaram uma vigília de 24 horas para reclamar contas antigas e lembrar a todos as responsabilidades do Estado num processo que se arrasta desde finais de 2004…
Quarenta antigos trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Urânio realizaram ontem uma em vigília, em Viseu, exigindo ao Governo que acabe de lhes pagar a “dívida” por décadas de trabalho em que estiveram expostos à radioactividade. Os ex-trabalhadores saíram pouco depois das 9h00 do portão da sede da Empresa Nacional de Urânio, na Urgeiriça, Canas de Senhorim (Nelas) e, alternando percursos a pé e de autocarro, dirigiram-se para o Governo Civil de Viseu, onde chegaram à hora de almoço. O porta-voz da comissão de antigos trabalhadores, António Minhoto, admitiu que o Governo tem vindo a dar passos positivos – nomeadamente a requalificação ambiental em curso nas minas da Urgeiriça e o programa de intervenção em saúde que arrancou na passada quinta-feira –, mas lembrou que o pagamento da “dívida do Estado” não pode ficar por ai. Segundo António Minhoto, a “dívida” tem vindo a ser “paga aos bochechos”, lembrando que falta ainda alargar a todos trabalhadores o decreto-lei que dá benefícios na idade da reforma e indemnizar os familiares dos cem colegas que alegadamente morreram com doenças cancerígenas, por terem estado expostos à radioactividade.Os ex-trabalhadores tinham dado um prazo ao Governo até ao final de Outubro para responder às suas reivindicações mas, como tal não aconteceu, decidiram avançar para uma jornada de luta. Em frente ao Governo Civil, onde planearam estar em vigília até às 9h00 de hoje, mostraram aos transeuntes a sua indignação perante o que dizem ser o silêncio do Governo com bandeiras negras, faixas e cartazes.Numa faixa negra podia ler-se “Cumpram as vossas promessas. Fomos vítimas da exposição à radioactividade, o Estado português é culpado”. “Não basta o PS/Governo dar-nos razão! Tem que haver uma solução” e “Senhores deputados do PS obriguem o Governo a pagar a dívida do Estado aos ex-trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio “ são outras das inscrições das faixas, que também tinham exibido durante os percursos a pé entre Canas de Senhorim e Nelas e entre a entrada de Viseu e o Governo Civil.Neste último percurso, os antigos trabalhadores fizeram uma paragem na sede distrital do PS, tendo sido recebidos por dirigentes da concelhia que aí se encontravam reunidos. Ao presidente da concelhia socialista, João Paulo Rebelo, António Minhoto entregou uma carta “a apelar ao bom senso do PS” e lembrou que o deputado eleito pelo círculo de Viseu Miguel Ginestal admitiu publicamente em Abril de 2005 “que há uma dívida do Estado aos trabalhadores”. “Não se está a falar da empresa do Gaudêncio não sei das quantas, mas de uma empresa pública”, frisou o porta-voz, apelando a que não obriguem os trabalhadores a apresentar uma queixa em tribunal contra o Estado português “por incúria”, porque nunca foram informados dos riscos que corriam ao trabalhar na Empresa Nacional de Urânio. João Paulo Rebelo comprometeu-se a fazer chegar o documento ao presidente da distrital do PS e também deputado parlamentar José Junqueiro.Num processo que se arrasta há vários anos, e já depois de várias acções de protesto, os trabalhadores conseguiram que, em meados de Dezembro de 2004, pouco tempo antes do fecho definitivo da ENU, o Conselho de Ministros tivesse aprovado o decreto-lei que veio satisfazer os seus desejos. A partir daí, os que tinham deixado a empresa antes da sua entrada em dissolução exigiram também ser abrangidos por esse decreto-lei. “É uma questão de justiça. O Estado não pode ser pai para uns e padrasto para outros”, frisou António Minhoto, alegando que todos estiveram sujeitos à radioactividade e estimando que a medida beneficiaria cerca de três centenas de pessoas. António Minhoto considerou que, quer os benefícios na idade da reforma, que seriam atribuídos progressivamente (porque nem todos os trabalhadores têm a mesma idade), quer as indemnizações aos familiares das vítimas, não teriam um grande peso nos cofres do Estado. E lembrou que estão ainda por vender cerca de 150 toneladas de urânio que, “a dez contos (cinco euros) o quilo pagam à vontade, e ainda cresce dinheiro”, esta dívida aos trabalhadores.
ENUIndemnizações
A Empresa Nacional de Urânio (ENU), uma empresa de capital exclusivamente público, que desde 1977 teve a seu cargo a exploração de urânio nos distritos de Viseu, Coimbra e Guarda, entrou em processo de liquidação em 2001 – quando tinha ainda 44 trabalhadores – e encerrou definitivamente no final de 2004. Desde então que 40 trabalhadores – alguns entretanto tinham-se reformado – que desempenhavam funções no exterior das minas exigiam ser abrangidos por um decreto-lei que os equiparasse aos do interior das galerias, o que possibilitaria terem benefícios em termos de antecipação da idade da reforma, alegando também terem estado expostos à radioactividade do urânio.
O Primeiro de Janeiro

novembro 10, 2007

Luta dos Mineiros


Antigos mineiros fazem vigília no Governo Civil
PS recusa recebê-los, argumentando que o porta-voz dos ex-trabalhadores da ENU da Urgeiriça “não é uma pessoa politicamente séria”.Os antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU ), com sede na Urgeiriça, em Canas de Senhorim, fazem hoje, em Viseu, uma marcha, com várias concentrações, seguida de uma vigília frente ao Governo Civil. Reclamam o cumprimento do que dizem ser “as promessas feitas pelos deputados do PS e pelo gGverno”. Para além dos exames médicos, que começaram esta semana, reclamam igualdade de tratamento na bonificação para a reforma, tal como foi dada aos trabalhadores do fundo de mina. António Minhoto, porta-voz da comissão dos antigos trabalhadores da ENU, diz que é uma questão de justiça, considerando que uma empresa do Estado tem de dar as mesmas regalias e direitos a todos os trabalhadores.“ Uns tiveram reformas antecipadas, equiparados a mineiros, e outros não”, refere. Neste processo de luta responsabilizam o Estado por, ao longo dos anos, não ter garantido a segurança dos trabalhadores que hoje se vêem confrontados com graves problemas de saúde. Sobre os exames médicos que começaram esta semana, no posto médico de Canas de Senhorim e no hospital de Viseu, o porta-voz dos trabalhadores diz que tudo está a ser feito de uma forma “desorganizada e anárquica, uma vez que não foi extensivo a todos os antigos trabalhadores da ENU, espalhados pelo país”. Acrescenta que na lista existente no posto médico de Canas de Senhorim “não estão lá todos os trabalhadores”.Por estas, e principalmente por razões de justiça, não tem dúvidas de que faz todo o sentido realizarem hoje a marcha e vigília em Viseu. Dizem ter a garantia de serem recebidos pelo governador civil, e gostavam que o mesmo acontecesse quando passarem na sede do PS. “Aqui não vão ser recebidos”, garante, todavia, o líder da federação distrital dos socialistas de Viseu.Para José Junqueiro, a manifestação e vigília não faz qualquer sentido, porque “todas as promessas feitas pelo Governo e deputados socialistas estão a ser cumpridas, como se vê com a implementação no terreno do programa de vigilância da saúde”. Sobre as outras reivindicações feitas pelo porta-voz dos trabalhadores, o deputado diz que “não trata com pessoas que pretendem tirar outras regalias à custa deste processo”. José Junqueiro iria mesmo mais longe, acrescentando que “não trata com pessoas que não são politicamente sérias”.
António Figueiredo

novembro 08, 2007

Exames aos mineiros da Urgeiriça



Começaram hoje os exames médicos aos antigos mineiros das minas de urânio da Urgeiriça. Os primeiros cinco ex-trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) foram observados esta manhã, no Hospital de Viseu.


José Guedes trabalhou 27 anos nas minas de Urânio da Urgeiriça. O antigo mineiro nunca fez exames específicos para saber se sofria ou não de problemas do foro oncológico. O ex-trabalhador da empresa nacional de Urânio teme que o cansaço e o mal-estar que sente, seja o resultado dos anos passados na mina. Os exames que agora começam a ser feitos são o resultado de uma luta antiga. No Hospital de Viseu, os antigos mineiros são sujeitos a uma autêntica bateria de exames médicos. Cílio Correia, director clínico do Hospital de Viseu disse à SIC que “se houver necessidade de algum encaminhamento porque manifeste algum sinal preocupante, será encaminhado (...) para qualquer uma das especialidades.” O objectivo do programa de intervenção na saúde que agora arranca, é identificar precocemente qualquer alteração no estado de saúde dos antigos operários da ENU. Os resultados dos primeiros exames médicos, deverão ser anunciados até ao final desta semana.
Emanuel Nunes
Jornalista

novembro 05, 2007

Os riscos da exploração do urânio

A reactivação da exploração de urânio tem conhecido nos últimos anos um crescimento acelerado. Só no continente asiático estão previstos 16 novos projectos de mineração e nos EUA 15 (informação do projecto WISE) . O aumento do preço do urânio no mercado internacional, que subiu 10 vezes mais nos últimos 5 anos, impulsionado pela procura de electricidade produzida por centrais nucleares e a expectativa de expansão desta indústria altamente insustentável, tem motivado esta opção.

Em Portugal coloca-se agora a corrida à exploração das 4.100 toneladas de urânio de Nisa, considerada a única zona do país onde esta pode ser economicamente rentável. Nove consórcios já mostraram o seu interesse, estando a Direcção-Geral de Geologia e Energia a elaborar os cadernos de encargos de abertura de um concurso internacional para a atribuição da concessão de exploração, a qual poderá ser conhecida até ao final de 2009.

Tal como no passado, apesar dos avanços tecnológicos e das regulações ambientais, a exploração de urânio pode trazer elevados impactos para a região. Coloca-se o ambiente e a saúde das populações em risco, em nome de um projecto que terá um período de vida útil de 6 a 8 anos e criará pouco emprego. Numa zona deprimida do país, coloca-se em risco as oportunidades de desenvolvimento local sustentável, assente em vectores estratégicos que retiram mais-valias da riqueza natural e patrimonial do território, ao mesmo tempo que preservam o ambiente e potenciam o emprego durável e a qualidade de vida local.

Esta é uma opção estruturante para o território local e a forma de encarar o interior do país. Ou a criação de riqueza fácil que pouco ou nada deixará para os território locais e as suas gentes, gerando problemas ambientais e sociais que ficarão para o Estado resolver num futuro longo em que só a desertificação humana é expectável, ou a aposta em eixos de desenvolvimento que criam dinamismo local geradores de emprego, rejuvenescimento populacional, qualidade no ambiente e paisagem, coesão social.

Vivemos num país em que a exploração de urânio do passado (nas 61 explorações mineiras existentes no país) acarretou um enorme passivo ambiental e impactes negativos na saúde pública das populações, que ainda hoje se manifestam e continuam por resolver. As minas encerradas continuam a ser responsáveis, além de poluição visual, pela presença de poeiras tóxicas na atmosfera e por situações de contaminação de solos, cursos de água e lençóis freáticos.
O acondicionamento dos milhares de toneladas de escórias, resultantes do tratamento do minério, em escombreiras e barragens de estéreis, sem que nada tenha sido feito durante décadas, deixou um pesado legado de degradação do ambiente e nas condições de vida em 18 concelhos do território nacional.

Existem cerca de 7,8 milhões m3 de resíduos, dos quais 3 milhões representam maior perigo de contaminação. As minas da Urgeiriça, no concelho de Nelas, em Viseu, têm as maiores fontes de radioactividade, representando a quase totalidade dos resíduos. O estudo MinUrar - Minas de Urânio e seus Resíduos: Efeitos na Saúde da População, coordenado pelo Observatório Nacional de Saúde, concluiu que a população de Canas de Senhorim, exposta às minas da Urgeiriça, apresenta uma diminuição das funções da tiróide, da capacidade reprodutiva de homens e mulheres e do número de glóbulos vermelhos, brancos e de plaquetas no sangue.

Para resolver os problemas associados às explorações uraníferas abandonadas estima-se que será necessário um investimento na ordem dos 70 milhões de euros.

Pouco ou muito pouco foi ainda feito. E continuam a morrer ex-trabalhadores das minas de urânio sem que as famílias recebam indemnizações; não se realizam estudos nem se faz o acompanhamento médico prolongado das populações que vivem nesses territórios; não existe qualquer compensação aos municípios pela degradação ambiental gerada por actividades económicas supostamente de interesse nacional. E estas mesmas questões mantêm-se actuais se a reactivação das minas de Nisa avançar, pois não há quaisquer garantias por parte do Estado ou dos concessionários que vão explorar o urânio. Pois os efeitos, sobretudo na saúde, da mineração de urânio podem vir a manifestar-se num tempo demasiado longo, mantendo-se para as gerações futuras.

Algumas notas sobre a extracção de urânio:

Mesmo as maiores jazidas contêm menos de 1% de urânio: uma grande quantidade de rocha tem de ser extraída para se obter quantidades úteis de urânio. Grande parte desta rocha é esmagada em partículas muito finas, quase tão radioactivas como o urânio e que se dispersam facilmente pelo ar. Para se extrair o urânio geralmente são utilizadas grandes quantidades de água, ácido sulfúrico e composto ligante sobre estas partículas. Com a maioria do urânio removido (cerca de 90%), as escórias são armazenadas em escombreiras ou barragens. O nível de radiação destes resíduos pode ser 20 a 100 vezes superior aos níveis naturais dos encontrados nas jazidas superficiais, e têm de ser armazenados por centenas a milhares de anos até atingirem um estado estável. As poeiras radioactivas, os materiais tóxicos e o radão gerados ao longo destes processos e presentes nos resíduos podem dispersar-se facilmente, contaminando pessoas e ecossistemas.
Outro processo de extracção do urânio muito comum é através da injecção na água subterrânea de soluções altamente ácidas ou alcalinas. Este é um processo altamente contaminante, tanto dos lençóis freáticos, do solo e da rocha, mas também gerando resíduos altamente radioactivos e tóxicos.

Rita Calvário