São 80, o número de ex-trabalhadores da ENU que morreram nos últimos cinco anos. Os sobreviventes, quase todos doentes do foro oncológico, ainda encontram genica para contar as suas histórias de alegrias passadas, da camaradagem, da cumplicidade, mas também da violência de como era trabalhar a cerca de 800 metros de profundidade cavando incessantemente buracos e mais buracos como se de uma "desgarrada" se tratasse.
Nos rostos têm as marcas da dor: de terem visto precocemente muitos dos seus companheiros de trabalho partirem; da impotência para poderem dar consolo e ajuda às muitas mulheres que também precocemente enviuvaram, ficando com os filhos nos braços para criarem; da revolta de quem explorou riqueza das entranhas da terra "para enriquecer o País" e agora se sente absolutamente ignorados pelos senhores do governo, que tanto "enchem a boca" de solidariedade e justiça.
Os estudos divulgados afirmam claramente e comprovam os efeitos da exposição prolongada a ambientes com presença de urânio como demonstram os relatórios já conhecidos, dos quais o Dr. José Marinho Falcão, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, na síntese que faz, constata que "existe, desde há muitos anos, evidência científica de que os mineiros de urânio têm risco acrescido de desenvolver neoplasias malignas, nomeadamente cancro do pulmão".
Dezasseis anos depois do encerramento das minas não há decerto nenhuma família que não tenha sido atingida pelo desespero de ver um familiar com cancro, que se tornou naquele lugar de Canas de Senhorim, Nelas uma palavra "maldita".
Dezasseis anos depois existem ainda 150 toneladas de urânio armazenadas no complexo das minas da Urgeiriça e, 79 milhões de euros é a verba necessária para a resolução dos problemas associados ás explorações uraníferas abandonadas na região centro (tanto quanto custaram as reformas em 2007 de apenas cinco ex-administradores do BCP).
Os ex-trabalhadores da ENU têm desenvolvido uma luta exemplar para que todos, mas todos, os que trabalharam nas minas e suas famílias vejam reconhecidos os seus direitos.
Foi por isso que o Bloco de Esquerda, em 13 de Maio de 2005 apresentou um Projecto de Lei (77/X), que tinha como objectivo alargar a todos os trabalhadores os direitos timidamente conseguidos com o Decreto-lei 28/2005 de 10 de Fevereiro.
Passou a 1ª sessão legislativa, passou a 2ª sessão legislativa e o PS sempre recusou o seu agendamento para discussão em plenário.
Com as novas regras regimentais que entraram em vigor nesta sessão legislativa, e que obrigam à discussão de todas as iniciativas apresentadas, apresentámos de novo esta questão consubstanciada em dois Projectos de Lei: 412/X entregue em 11 de Outubro e 464/X entregue em 22 de Fevereiro de 2008.
O que pretendemos é resolver de vez a hedionda injustiça de que foram alvo tantos quantos deram a vida à mina, que deixou um rasto de morte e doença nos trabalhadores e suas famílias.
O desprezo com que o governo tem tratado esta situação é absolutamente inqualificável. O mínimo que têm obrigação de fazer é pagar "parte" da imensa dívida que têm para com todos eles, homens, mulheres e crianças.
Estamos cá para no próximo dia 7 de Março ver se os deputados e deputadas do PS têm a coragem de votar contra os Projectos de Lei do BE e do PCP.
Para que em surdina não mais se diga: ... Do sangue dum camarada... Vê lá companheiro... Vê lá, como... venho eu!
Mariana Aiveca...Esquerda.net
Gentileza de Farpas
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