O portal de Canas de Senhorim

janeiro 22, 2008

António Minhoto VS Manuel Marques

AZU apresenta queixa
contra
vereador por difamação

A associação Ambiente em Zonas Uraníferas (AZU) anunciou hoje ter apresentado uma queixa-crime por difamação contra o vereador da Câmara de Nelas Manuel Marques, que acusa de ter chamado «terrorista político» ao seu presidente, António Minhoto.

António Minhoto disse à Agência Lusa que a acusação foi feita por Manuel Marques a propósito da recente denúncia da AZU sobre a poluição na Ribeira da Pantanha, numa extensão de quatro quilómetros, entre a Barragem Velha da Urgeiriça (Canas de Senhorim) e o Rio Mondego, no concelho de Nelas.
Depois de António Minhoto ter atribuído a poluição a um pólo empresarial de Canas de Senhorim «que a autarquia tem de saber cuidar, criando condições para as empresas se instalarem, especialmente ao nível do tratamento dos resíduos industriais», o vereador Manuel Marques disse que «esse senhor é um terrorista político que quer destruir o concelho de Nelas», segundo o Jornal de Notícias de 11 de Janeiro.
Por considerarem esta afirmação «deselegante» e que «não corresponde nem à situação em causa, nem à postura da AZU desde a sua fundação», os órgãos sociais da associação decidiram avançar com uma queixa-crime contra Manuel Marques.
Contactado pela Lusa, o vereador Manuel Marques (PSD/CDS-PP), responsável pelo pelouro do Ambiente, confirmou ter chamado a António Minhoto «terrorista político», uma atitude da qual diz não estar «nada arrependido».
«Ele faz política de qualquer maneira, de uma forma terrorista», referiu, ao justificar o epíteto, acrescentando que a afirmação aconteceu num contexto de «um encher de ataques, quer pessoais, quer políticos».
A associação ambientalista lembra que foi criada em 2003, «para salvaguardar a existência de um melhor ambiente» na região, onde esteve sedeada a Empresa Nacional de Urânio (ENU) e durante décadas foi explorado aquele minério.
«A AZU contribuiu, com a sua insistência, para que o problema assumisse uma dimensão nacional, permitindo que a recuperação ambiental se iniciasse e fosse realizado um estudo epidemiológico sobre o impacto da radioactividade nas populações», acrescenta.
Por entender que todas as actividades que desenvolveu foram «sempre realizadas no mais estrito respeito pelas instituições e pelas pessoas», a AZU considera «abusivo o epíteto» atribuído ao seu presidente.
Manuel Marques disse à Lusa que, se o que António Minhoto queria era «averiguar uma questão ambiental do seu concelho, tinha feito de outra forma: se não queria dirigir-se ao vereador, poderia ter ido ao gabinete do ambiente».
«A Câmara tem um gabinete devidamente instruído. Ele perguntou alguma coisa a alguns dos nossos técnicos?»,
questionou, concluindo que António Minhoto apenas quis «show off político».
Manuel Marques referiu que tudo faz «em defesa dos industriais do concelho», garantindo que no caso da poluição da Ribeira da Pantanha, estes estão a agir dentro da lei.
«Os parâmetros das descargas estão dentro dos parâmetros legais», assegurou.
O autarca, que é advogado, disse que aguardará «serenamente» o desenrolar da queixa-crime, que diz ser «apenas mais uma», lembrando nunca ter sido condenado em nenhum dos casos.
António Minhoto já recebeu a solidariedade da comissão dos ex-trabalhadores da ENU, da qual tem sido porta-voz, e também da associação ambientalista Amigos da Serra da Estrela.
«Não há desculpa para quem quer que seja, e muito menos para autarcas que representam o povo que governam, que quando interpelados a corrigir nefastos efeitos ambientais utilizem vocabulário hostil e injusto», refere uma carta da comissão de ex-trabalhadores enviada a António Minhoto, a que a Lusa teve acesso.
Na sua opinião, «só por maldade ou ignorância» se pode «acusar de terrorista político» António Minhoto, dada a sua «honradez, honestidade» e o facto de ser «defensor dos direitos dos trabalhadores, das populações do seu concelho e das causas ambientais».
A associação Amigos da Serra da Estrela considera, por sua vez, que «se está perante um responsável autárquico que perdeu o sentido das palavras», lembrando que António Minhoto só estava a exercer o seu «direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender», previsto na Constituição.
Neste âmbito, aconselha Manuel Marques a interrogar-se «sobre o cargo que exerce e se quer correr o risco de, futuramente, ter de vir a chamar de terroristas políticos a muitos mais munícipes que defendam o meio ambiente».
Diário Digital / Lusa

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