O portal de Canas de Senhorim

julho 05, 2007

A Urgeiriça...no "Diário As Beiras..."


02-07-2007
NELAS


Governo continua sem pagar aos ex-mineiros da Urgeiriça

Antigos trabalhadores querem aproveitar a presidência portuguesa da União Europeia para dar mais visibilidade às suas reivindicações. A Empresa Nacional de Urânio (ENU) entrou em processo de liquidação em 2001 e encerrou definitivamente no final de 2004, mas, ainda hoje, seus antigos trabalhadores reclamam ao Governo que “pague a dívida” que tem. “Já andamos nisto há tempo de mais. Queremos mostrar à Europa que o Governo português ainda não pagou a dívida que tem para connosco”, afirmou José Lopes Soares, antigo trabalhador da ENU, minutos antes de entrar num autocarro rumo ao Porto, onde Portugal assumiu ontem a presidência da União Europeia. A exploração de urânio em Portugal esteve a cargo da ENU desde 1977, altura em que sucedeu à Junta de Energia Nuclear.Sediada na Urgeiriça, em Canas de Senhorim (Nelas), a empresa, de capital exclusivamente público, teve minas a funcionar em regiões graníticas dos distritos de Viseu, Guarda, Coimbra e Castelo Branco. Recentemente, o Governo comprometeu-se a realizar exames médicos periódicos aos trabalhadores, mas estes queixam-se de estarem ainda sem resposta às suas outras duas reivindicações: o pagamento de indemnizações às famílias das vítimas mortais e a equiparação a trabalhadores de fundo de mina que permitirá benefícios na idade da reforma. Desde que, numa assembleia-geral realizada em Março de 2001, foi decidida a dissolução e entrada em liquidação da ENU, por não ter viabilidade económica e devido a problemas ambientais, que os protestos dos trabalhadores têm sido constantes. Na altura da entrada em liquidação, trabalhavam ainda na empresa 44 pessoas, das quais apenas três permaneceram até ao seu fecho definitivo. Desde então que 40 trabalhadores (alguns entretanto tinham--se reformado) que desempenhavam funções no exterior das minas exigiam ser abrangidos por um decreto-lei que os equiparasse aos do interior das galerias, o que possibilitaria terem benefícios em termos de antecipação da idade da reforma, alegando também terem estado expostos à radioactividade do urânio. Depois de várias acções de protesto e quase quatro anos depois, os trabalhadores conseguiram que, em meados de Dezembro de 2004 - pouco tempo antes do fecho definitivo da ENU, o Conselho de Ministros tivesse aprovado o decreto-lei que veio satisfazer os seus desejos. O comunicado do Conselho de Ministros explicava que “razões de solidariedade, equidade e de justiça social justificam uma especial protecção dos trabalhadores que laboravam na ENU à data da sua dissolução”. No entanto, os outros trabalhadores que tinham deixado a empresa antes da sua entrada em dissolução - os mesmos que hoje se manifestam no Porto - exigiram também ser abrangidos por este decreto-lei, argumentando que todos sentiram na pele os efeitos da radioactividade.“Não pode haver injustiça da parte do Estado. Tem de haver direitos iguais para todos, porque todos fomos afectados”, reafirmou ontem, à Lusa, António Minhoto, que tem liderado esta luta. A medida beneficiaria mais de três centenas de pessoas, das cerca de 650 que entre 1977 e 1991 (altura em que começaram os despedimentos) trabalharam na ENU.Cada morte de um antigo trabalhador tem servido para exigir ao Governo a realização de exames médicos periódicos e o pagamento de indemnizações às suas famílias, com o argumento de que está provada a relação entre a exposição à radioactividade e as doenças oncológicas. Ainda que não haja um levantamento exaustivo do número de mortos, a estimativa aponta para mais de 60 nos últimos anos. “O meu marido trabalhou cerca de 25 anos no tratamento químico (do urânio) e morreu em 2000, com um tumor no fígado. E agora recebo apenas 152 euros da reforma dele”, lamentou Judite Gouveia, viúva de um antigo trabalhador. A viúva disse à Lusa não ter “quaisquer dúvidas” que “a doença foi apanhada no trabalho”, até porque “quando chegava a casa levava com ele uns cheiros horríveis”, que a levavam mesmo a pedir-lhe que se despisse antes de entrar em casa. Também Maria Adelina dos Anjos, cujo marido faleceu há menos de um ano, se lamenta da magra reforma de “27 contos, que não dá para nada”, depois de o marido ter trabalhado vinte anos no fundo de mina. “Ele morreu de um tumor no pulmão. Tenho a certeza que foi por ter trabalhado nas minhas, até porque nunca fumou. Era de toda a justiça as viúvas receberem uma indemnização, para que não se sentissem tão revoltadas”, afirmou.

http://www.asbeiras.pt/index2.php?area=viseu&numero=45721&ed=03072007

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